A Libertação do ego
Ganhando consciência que tudo é impermanente, tudo está permanentemente
em mudança, logo, percebendo que não faz sentido o apego a algo, pois, sabemos
que tudo o que existe ou ocorre no domínio do material acaba. Sabendo que o
apego, é uma construção do Ego humano, que nos vê com seres materiais, e que,
nessa qualidade, pretende garantir a nossa superioridade em relação aos outros.
Percebendo, assim, que o apego por ser gerado pelo Ego origina medo, que nos
afasta dos outros, resultando em infelicidade e sofrimento do ser humano.
Libertemo-nos, pois, do apego:
Às
ideias e conceitos
As nossas ideias vão mudando lentamente. Em
função das circunstâncias da vida, da nossa experiência, da nossa formação, dos
nossos interesses de momento…, as nossas ideias vão sendo felizmente alteradas.
Digo felizmente, pois todos devemos poder crescer, e o apego às nossas ideias
impedir-nos-ia de crescer. Mas infelizmente a actualização das nossas ideias,
mesmo que suportada por argumentos seguros, é sempre muito lenta e sujeita a
enorme resistência por parte do nosso ego, que receia toda a mudança, pois
considera que qualquer mudança lhe cria insegurança. Esta mudança torna-se
ainda mais difícil porque as nossas ideais também são o suporte dos interesses
do nosso ego.
O apego às
nossas ideias também não nos torna superiores, como o nosso ego pensa, mas, pelo
contrário, ao impedir-nos de abrir nossos horizontes, de evoluir, torna-nos
menos capazes de crescermos como seres felizes.
Aos
bens materiais
Os bens materiais podem ser úteis, e
propiciar-nos momentos de alegria, mas só nos tornam
felizes se não criarmos apego. Se criarmos apego tornam-se
fonte de infelicidade. Antes de os obtermos, vivemos em ansiedade. Esta
ansiedade ocorre sempre que desejamos muito ter um determinado bem material. Podemos,
por exemplo viver obcecados por
ter um carro de determinada marca, não só pelas potencialidades do carro, mas,
por vezes, simplesmente porque nos dá estatuto
- não nos torna felizes, mas alimenta o nosso Ego. Muitas vezes prescindimos de
fazer o que nos torna mais felizes, de conversar com os nossos amigos, de
partilhar momentos com os familiares, pois precisamos de ganhar dinheiro,
sujeitando-nos, muitas vezes, a fazer um trabalho que nos deixa descontentes ou
infelizes, mas o importante é cumprir o objectivo,
neste caso de comprar o carro. Quantas vezes a
ansiedade pela obtenção de determinado bem material
não nos causa até transtornos físicos ou psicológicos. Depois de obter
o bem material, podemos sentir alegria no imediato, mas com o tempo esta
esfria, além de que com o tempo o estatuto que aparentemente nos proporcionaria
torna-se insuficiente. Então precisamos de nos
concentrar na obtenção de outros objectivos materiais, eventualmente que nos proporcionem igualmente estatuto.
Criamos o vício de obter cada vez mais bens materiais. No caso do dinheiro, este vício é por demais
expressivo. Quanto mais temos mais apego geramos. Por mais dinheiro que
tenhamos este será sempre insuficiente. Continuamos a deixar de
viver o dia a dia com os amigos ou familiares, ou connosco próprios, para nos
alienarmos na procura de determinados bens materiais, num ciclo interminável.
O nosso Ego,
ao apegar-se ao material, porque considera que nos torna superiores aos outros,
ou porque criámos uma dependência irracional, impede-nos de vivermos o
presente, faz-nos viver em função de objectivos futuros, que, quando atingidos
perdem a importância e são substituídos por outros, ou,
como acontece com o dinheiro, nunca ficamos satisfeitos, queremos sempre mais, e não vivemos o presente, não construímos a nossa felicidade que só é
possível acontecer no presente.
Mas, o mais
grave, é que para atingirmos estes objectivos materiais, por vezes consideramos
que vale tudo, e “passamos por cima de todos”, rebaixamos os outros, criamos
inimizades, alimentamos emoções negativos, e neste percurso, tornamo-nos
infelizes e tornamos infelizes os que nos rodeiam. Depois, se algo
acontece ao nosso objecto de apego, poderemos entrar em
estado de choque, tornando-nos agressivos com os
outros e ficamos infelizes. Contudo esta
infelicidade, nada adianta, não repõe o estado original do objecto. Não é por nos embrenharmos nestes estados emocionais que o passado muda.
Assim, apreciemos simplesmente os
bens que nos forem disponibilizados, apreciemos o momento que eles nos
proporcionam, mas não criemos apego aos bens materiais se não queremos sofrer e
tornarmo-nos infelizes.