Sunday, 14 February 2016

A Libertação do ego - Pelo não julgamento

A Libertação do ego

Pelo não julgamento

O não julgamento resulta da aceitação. Quando aceitamos:

- Que vivemos no campo da materialidade, no domínio do relativo, que por isso se rege pela dialética dos opostos, em que nada existe sem o seu oposto que também lhe é complementar;

- Que, em consequência, não existe o Yin sem o Yang e por isso a nossa mente não pode conhecer o frio sem o calor, o alto sem o baixo…;

Reconhecemos a perfeição da materialidade. Então aceitamos tudo. Aceitamos as decisões de cada um, pois cada um é livre de optar pelo Yin ou pelo Yang.  Mas isso não é impeditivo que cada um de nós não possa tomar decisões diferentes. Cada um de nós conhecendo o calor pode sempre optar pelo frio. Conhecendo o medo pode sempre optar pelo amor.

Mas nunca devemos julgar os outros por seguirem um caminho diferente do nosso. Quando julgamos é porque não aceitamos, porque o nosso ego com o intuito de defender que a razão está do nosso lado, não aceita que outros pensem ou ajam de maneira diferente da nossa e assim, por insegurança, geramos medo de que a nossa individualidade não seja superior[1] e assim, não possamos singrar nesta sociedade de competição. Este medo pode manifestar-se nas suas múltiplas facetas, raiva, ódio, revolta…. Criamos, assim, mais afastamento dos outros.

Quando não julgamos e aceitamos, esta forma de estar pode permitir o desenvolvimento de sentimentos positivos de aproximação aos outros, pode permitir que o amor aos outros nasça e floresça. Para a maioria de nós, que amam os seus filhos, torna-se mais fácil aceitá-los sem julgamentos, porque o amor é mais forte do que as emoções negativas, do que o medo. No entanto, quando se trata de outras pessoas, relativamente às quais não tenhamos desenvolvido ligações afetivas tão próximas, é mais difícil aceitar o que não corresponda aos nossos pontos de vista. Aliás o nosso ego considera que para se desenvolver, para se mostrar superior aos outros, as suas ideias tem de vingar, tem de as conseguir impor aos outros.

Contudo aceitar as ideias dos outros, não significa que não mostremos os nossos pontos de vista se eles forem diferentes, mas devemos deixar sempre que os outros tenham os seus e façam as suas escolhas. É assim que procedemos com os nossos filhos quando os amamos incondicionalmente, dizemos-lhe o que pensamos, mas não geramos emoções negativas quando têm pontos de vista ou atuações diferentes dos nossos. Contudo, alguns de nós, por medo, para protegermos os nossos filhos, mesmo sem criar revolta, pretendemos impor-lhes a nossa forma de ver o mundo, impedindo-os, assim, de crescer. Como sempre refiro não é a experiência dos outros que nos permite crescer, mas a nossa experiência de vida.

Se não julgarmos os outros é mais fácil eles mudarem, se nós em vez de os julgarmos, formos compreensivos, podemos ajudá-los a transformarem-se, mas se os julgarmos e em consequência desenvolvermos emoções negativas, só conseguiremos gerar nos outros emoções negativas. As emoções negativas, ódio, raiva, revolta geram nos outros emoções semelhantes, que se perpetuam, e em consequência, o seu medo de perder a hegemonia agrava-se, levando a que se torne quase impossível a mudança. Nunca julguemos os outros, demos-lhe sempre oportunidade de seguirem o seu caminho e de crescerem.




[1]              O julgamento tem sempre por finalidade mostrar a nossa superioridade, contudo, para cumprir com este objetivo, tanto podemos valorizarmo-nos, como apontar os defeitos dos outros.