Sunday, 10 April 2016

A formação das emoções básicas - O Medo e o Amor


A nossa mente racional analisa tudo o que nos é exterior, tendo em conta o impacto que tem em nós. A entidade que vamos criando ao longo da vida, onde são registados os parâmetros da nossa identidade, que servem para medir esse impacto, é o ego. Assim a nossa mente analisa tudo em função do nosso ego e em função dessa análise, o nosso corpo gera uma reacção, uma energia, a que chamamos de emoção que incentiva ou condiciona a acção.

Se a nossa mente concluiu que existe risco para a individualidade é gerado medo. Mas o nosso ego para além da preocupação com a preservação da individualidade física, vai criando, cada vez com mais intensidade, a pretensão de mostrar que a nossa identidade é superior à dos outros, por força dos conceitos que a sociedade vai imprimindo em nós.  De facto a sociedade incute-nos a ideia de que só podemos singrar neste mundo material, se tivermos sucesso nesta sociedade de competição criada pelo homem. Desta forma, já não existe só o risco de não sobrevivermos fisicamente, mas também existe o risco de não sermos superiores aos outros e em consequência não triunfarmos nesta nossa sociedade. 

O ego que domina a nossa mente e o medo que lhe é inerente são os grandes responsáveis pela defesa extremada da individualidade material. Este medo provoca reacções fisiológicas no nosso organismo que criam condições para ele se defender dos “perigos” reais, ou até dos imaginários gerados pela mente. Se estas reacções não se concretizarem numa resposta do organismo, não ocorre a descarga da energia gerada pelo organismo para se defender e esta acumula-se, provocando um excesso de tensão. Em consequência criam-se desequilíbrios energéticos e geram-se as doenças físicas. E como o medo motiva a nossa mente a continuar a laborar, a gerar obsessivamente pensamentos, que por sua vez criam mais emoções, aparece o “stress” e surgem diversos tipos de doenças psicológicas e as doenças físicas também se agravam.
           
Se respondermos com reacções violentas aos indivíduos que o nosso ego identifica como sendo um obstáculo às suas aspirações, ou como representando um perigo para a nossa identidade física, aumentamos o sofrimento em nós. Habitualmente surgem mais emoções derivadas do medo, que nos podem levar a continuar a agredi-los física ou psicologicamente. Depois, entramos num ciclo interminável de reacções em que o medo alimenta a mente e os pensamentos obsessivos, e estes por sua vez alimentam o medo, gerando cada vez mais sofrimento em nós. Estas emoções e reacções não só nos afastam cada vez mais dos outros, como nos destroem por dentro, gerando sofrimento e podem também destruir os que são objecto das nossas reacções. Gera-se um clima de infelicidade em ambos. Estas emoções e reacções que tem em vista proteger a nossa individualidade, põem em causa a individualidade dos outros, afastam-nos deles e destroem-nos interiormente.

Nestas circunstâncias o medo é a emoção da individualização, da separação dos outros e do sofrimento. Pode manifestar-se, no nosso dia a dia, através das emoções dele derivadas que lhe dão suporte, que denominamos por emoções negativas: a raiva, a revolta, o ódio, a inveja… Assim, o medo e estas emoções dele derivadas são os grandes responsáveis pela infelicidade do homem

A nossa mente e as emoções a ela ligadas derivam da evolução da nossa componente material, do animal que se desenvolveu em todos nós. Em consequência  somos impulsionados por estas nossas características animais a viver em função da mente e do medo. 

Mas em oposição à individualização está a ligação aos outros e a tudo o que nos rodeia. Esta ligação a tudo corresponde à nossa essência, à expressão do nosso Ser interior, pelo que todos nós, mesmo que de forma indelével sentimos esta ligação. Se deixarmos crescer a nossa sensibilidade perceberemos que é o sentir desta ligação que nos proporciona a paz interior e a felicidade. Acresce que ao encontrarmos paz geramos equilíbrio em nós, torna-mo-nos mais saudáveis.

O sentir do que Somos, pode ser reforçado pelo entendimento de que fazemos parte de um Todo e que se não estivermos em harmonia, em equilíbrio com o Todo, não podemos ter futuro em termos físicos, nem conseguiremos ser felizes.   

A defesa da individualização é feita pela nossa mente sob o domínio do ego e é suportada pelas suas análises, que catalogamos como racionais. Mas a ligação aos outros e a tudo o que nos rodeia é suportada pela nossa Alma, que se expressa através do sentir. A mente racional alimenta o medo, enquanto a nossa Alma se expressa pelo Amor incondicional.

          
As emoções e as reacções orgânicas de cada um, são diferentes de pessoa para pessoa. Algumas, principalmente devido a características herdadas ou adquiridas, reagem a determinada situação de forma intempestiva, exaltada, com emoções extremadas, enquanto outras podem ter emoções mais equilibradas ou ténues. Estas emoções condicionam também a mente, que para responder a emoções extremadas geram mais argumentos, os quais inflacionam as emoções e as consequentes reacções do indivíduo. A sociedade e o meio social especifico em que se inserem são também grandes condicionadores da formação da nossa estrutura mental e e das nossas emoções. Contudo, para além de todos estes condicionantes  e das circunstâncias em que as situações ocorrem, a consciência de cada um no momento, é decisiva para a graduação das suas reacções emocionais.

A nossa consciência pode ter sempre uma palavra a dizer na forma como a nossa mente funciona e com são geradas as emoções. Quando, fruto da caminhada que vamos percorrendo, através desta e de outras vidas, nos conseguimos conhecer intrinsecamente e começamos a sentir que nós somos a nossa Alma, criamos condições para deixar que Esta aflore na nossa vida. A nossa Alma pode então gradualmente começar a gerir as nossas acções, e a nossa vida como seres humanos transforma-se. Passamos a viver envolvidos por uma profunda paz interior, pois sentimos que só podemos crescer e ter futuro em união com o Todo, que todos Somos, e o Amor incondicional passa a ser o sentimento sempre presente na nossa vida. Desta forma aprendemos a ser felizes e, se muitos de nós nos encontrarmos neste patamar evolutivo, conseguimos elevar a consciência da humanidade para um patamar superior.

Nós somos Seres livres e por isso podemos deixar de ser dominados pelo ego e pelas características herdadas, definindo a cada momento o que Somos, e em consequência como vivemos a nossa vida. Para tal, temos de aprender a conhecer-mo-nos intrinsecamente a fim de que ao conhecermos quem Somos, deixarmos que o que Somos, a nossa Alma, que é parte do Todo, passe a gerir as nossas vidas.


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