Saturday, 13 September 2014

A Libertação do ego

Pela aceitação


Quando a nossa mente cria pensamentos sobre o que aconteceu, e, sob a influência do ego[1] não o aceita - contrariando toda a lógica, pois não podemos voltar atrás no tempo e alterar acontecimentos - cria emoções negativas, como revolta, raiva…, que nos causam sofrimento. 

Assim, o primeiro passo para criar paz interior, não gerando emoções negativas é aceitar o que aconteceu, pois é o único ato lógico. Após aceitar o que aconteceu, e por essa razão ficarmos em paz connosco próprios, torna-se mais fácil proceder às transformações que a situação exija, mas de forma serena e lógica. Aceitação não é resignação, pois esta pressupõe uma revolta interior, por nos considerarmos incapazes de proceder à mudança. Neste caso as emoções associadas ao acontecimento não foram eliminadas, simplesmente ficaram em “standby”, mas a germinar no nosso subconsciente e, quando voltarmos a reviver situações semelhantes podem voltar com mais força.

Quando tal acontece torna-se difícil, quando ocorrem situações semelhantes às que despoletaram as emoções "stressantes" intensas, mantermos o estado de presença e impedirmos a nossa mente de voltar a aceder às memórias passadas semelhantes, e em consequência também não conseguimos parar o ritmo das emoções. Para conseguirmos viver no presente temos de aceitar o nosso passado, ou se quisermos temos de o ter perdoado. Viver no presente implica estarmos em paz connosco próprios e só o conseguimos se não tivermos desenvolvido a sensação de culpa pelos nossos actos passados, ou a revolta com as situações que aí ocorreram. O nosso passado tem de estar bem resolvido, para conseguirmos estar em paz. Temos de entender que como seres humanos que somos vivemos na terra para aprender e esta aprendizagem faz-se com “erros” e a sua superação. Quando superamos os “problemas” do passado, em vez de ficarmos traumatizados com os “erros” que cometemos, devemos ficar alegres pois os superámos  e aceitámos, e, assim, já temos condições de não os repetir, mas se tal ocorrer faz parte da condição humana. Temos é de ser determinados e nunca desistir, e quando os ultrapassarmos definitivamente devemos ficar felizes. O passado é passado, e serviu o seu fim, ajudar-nos a crescer. Logo não há qualquer justificação para mantermos a culpa ou a revolta que por vezes alimentámos durante tanto tempo.

Assim, devemos aceitar a vida tal como é e agradecer por podermos ter tido “oportunidades de crescimento”, e as termos aproveitado. As situações adversas do passado, mesmo que não tenham sido resolvidas de forma que nos deixassem felizes da primeira vez que ocorreram, ao repetirem-se mais tarde e terem sido ultrapassadas serviram para aprendermos, logo as situações adversas do passado também nos podem dar alegria e ajudar-nos a sermos felizes no presente. Ao aceitá-las criamos condições para podermos viver inteiramente no presente e em paz.

A aceitação só é possível quando nos conseguimos libertar do ego, que nos agarra à materialidade e alimenta o apego a tudo que o engrandece. Só então conseguimos relativizar tudo, entendendo que o que é material não é importante, o que é importante é o que nós Somos, e, em consequência, a relação que estabelecemos connosco próprios e com os outros. Então, entendemos que só quando privilegiamos a relação de ligação aos outros, quando privilegiamos o amor a nós próprios e aos outros, conseguimos ser felizes.

É a nossa dependência do nosso ego, que só se preocupa com a preservação do nosso corpo e com a nossa satisfação material, que gera o medo e todas as emoções dele derivadas, e são todas estas que nos impossibilitam de aceitar as situações que acontecem e nos tornam infelizes. O ego é extremamente inseguro, e por isso gera medo que não consigamos obter satisfação, ou ser superiores aos outros e enquanto nos dominar não nos deixa ser felizes.

Assim, qualquer que seja a situação, só poderemos vivê-la de forma feliz se utilizarmos sempre os mesmos princípios. Libertar-mo-nos do domínio do ego e do medo que este gera; aceitarmos tudo o que acontece, o que só se torna possível quando nos libertamos do domínio do ego; em consequência, criamos condições para viver cada momento num intenso estado de presença, libertos dos pensamentos obsessivos gerados pelo medo criado no passado pelo nosso ego. Ao agir assim, teremos criado condições para que surja em nós alegria interior, e se reforce o nosso amor a nós próprios e aos outros. Estaremos então aptos a, de forma totalmente livre, gerir as nossas vidas e crescermos como seres felizes.



[1] O ego é tão obcecado pela defesa da individualidade, que faz com que a nossa mente se torne irracional, pois condiciona o pensamento, obrigando-o a seguir o caminho que ele ego considera que vai de encontro aos seus interesses, mesmo que esse caminho seja “obtuso”, sem sentido, e portanto totalmente irracional.

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