Nós evoluímos como animais e torná-mo-nos seres humanos, e, por força da nossa
evolução neste domínio da materialidade, desenvolvemos instintos
de defesa mais sofisticados, que, se por um lado nos dão mais possibilidade de
sobrevivência, por outro, agravam os riscos, ao aumentar exageradamente o culto
da individualidade e o medo, que daí resulta. Assim, por força desta natureza humana, criámos uma sociedade de competição
permanente em que temos de provar que somos superiores, logo os outros são
inferiores. Esta mentalidade que fomos criando, por vezes de forma
inconsciente, fez com que incentivássemos também os nossos
filhos a mostrarem-se superiores, pois entendemos que nesta sociedade de
competição só os melhores podem triunfar.
Assim, a mente “racional”, com o intuito de
proteger a individualidade física, seguiu o caminho da sobrevalorização do
individuo, à custa da desvalorização dos outros. Quando nos valorizamos,
até nas mais pequenas coisas, pretendemos geralmente mostrar a nossa
superioridade em relação aos outros. Quando falamos dos outros para salientar
os seus aspectos negativos, estamos, mesmo que de forma inconsciente, a
tentarmos convencer-mo-nos e aos outros que somos superiores.
Para garantir a nossa
superioridade recorremos às nossas memórias do passado, para encontrar
argumentos a nosso favor e ou argumentos contra aqueles que põem em causa a nossa
superioridade ou de alguma forma se impõem a nós. Este objectivo de garantir a
nossa superioridade, faz com que a nossa mente não páre. Esta está
constantemente a gerar pensamentos de forma obsessiva e não controlada. Estes
pensamentos geram ideias, conceitos, que assumimos como a “verdade”, a “nossa
verdade”. Criámos um ego exacerbado que
é o repositório de tudo o que satisfaz a nossa individualidade, as “nossas
verdades”, e, como veremos mais tarde, tudo o que assumimos como nosso, e que
engrandece a nossa individualidade. A “verdade” criada pela nossa mente é,
pois, aquela que garante a nossa satisfação pessoal e a nossa superioridade em
relação aos outros, a que satisfaz e acaricia o nosso ego.
O impacto em nós, de tudo o que nos é exterior, é avaliado pela nossa
mente racional, em função dos parâmetros do nosso ego, gerando uma relação
afectiva em relação ao que nos é exterior. Esta manifesta-se no nosso corpo sob
a forma de emoções. Se este impacto satisfaz ou acaricia o
nosso ego, se vai de encontro à “nossa verdade”, gera-se uma relação afectiva
amistosa com esse algo, que origina no nosso corpo emoções que chamaria de “positivas”,
porque nos fazem sentir bem. Se este impacto é avaliado como impedindo a nossa
satisfação pessoal ou a concretização da nossa superioridade, prejudicando o
nosso ego, contrariando a “nossa verdade”, gera-se uma relação afectiva de
rejeição, que origina no nosso corpo emoções “negativas”, habitualmente sob a
forma de medo, em qualquer das suas variantes, revolta, raiva, ódio….
Assim, o nosso ego faz
com que vivamos em permanente competição a fim de provarmos a nossa superioridade,
mas, como tudo o que nos é exterior representa
sempre um risco para este nosso ego exacerbado, vivemos alimentando constantemente
o medo e tornando-nos infelizes.
Entendo que todos nós devemos crer evoluir, todos nós devemos crer crescer como
seres humanos. Para tal, é normal que nos queiramos experienciar em todas
os aspectos da materialidade, é normal que aceitemos novos desafios. Mas a
nossa evolução não significa que não queiramos que os outros evoluam, aliás
devemos alegra-mo-nos com a evolução dos outros, pois, como fazemos parte de uma
raça e de um Todo, só podemos beneficiar com a sua evolução. Para alguém que entenda quem realmente É, para
alguém que entenda que é parte de um Todo, e, por isso, ama e vive como o Todo
que É, será incompreensível que queira competir para ser “melhor” do que o
outro, pois o que faz sentido é que se alegre com o crescimento do outro.
Nós
deveremos aceitar o desafio de crescer, logo de nos conhecermos melhor para aprendermos
a ser mais conscientes e mais evoluídos do que éramos, pois é para isso que
aceitámos o desafio de viver; mas não temos de ser “melhores” do que ninguém, simplesmente
devemos ser “melhores” do que nós próprios éramos. A nossa evolução está muito dependente da
evolução da sociedade em que nós nos inserimos, pois nós evoluímos condicionados
pelo exterior, pela sociedade em que vivemos; logo, quanto mais consciente for a
sociedade em que vivemos, quanto mais a sociedade evoluir, quanto mais os
outros evoluírem mais nós evoluímos.
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