Wednesday, 26 February 2014

Consequências da Mente Egoica

Consequências da Mente Egoica


Nós evoluímos como animais e torná-mo-nos seres humanos, e, por força da nossa evolução neste domínio da materialidade, desenvolvemos instintos de defesa mais sofisticados, que, se por um lado nos dão mais possibilidade de sobrevivência, por outro, agravam os riscos, ao aumentar exageradamente o culto da individualidade e o medo, que daí resulta. Assim, por força desta natureza humana, criámos uma sociedade de competição permanente em que temos de provar que somos superiores, logo os outros são inferiores. Esta mentalidade que fomos criando, por vezes de forma inconsciente, fez com que incentivássemos também os nossos filhos a mostrarem-se superiores, pois entendemos que nesta sociedade de competição só os melhores podem triunfar.

Assim, a mente “racional”, com o intuito de proteger a individualidade física, seguiu o caminho da sobrevalorização do individuo, à custa da desvalorização dos outros. Quando nos valorizamos, até nas mais pequenas coisas, pretendemos geralmente mostrar a nossa superioridade em relação aos outros. Quando falamos dos outros para salientar os seus aspectos negativos, estamos, mesmo que de forma inconsciente, a tentarmos convencer-mo-nos e aos outros que somos superiores.

Para garantir a nossa superioridade recorremos às nossas memórias do passado, para encontrar argumentos a nosso favor e ou argumentos contra aqueles que põem em causa a nossa superioridade ou de alguma forma se impõem a nós. Este objectivo de garantir a nossa superioridade, faz com que a nossa mente não páre. Esta está constantemente a gerar pensamentos de forma obsessiva e não controlada. Estes pensamentos geram ideias, conceitos, que assumimos como a “verdade”, a “nossa verdade”. Criámos um ego exacerbado que é o repositório de tudo o que satisfaz a nossa individualidade, as “nossas verdades”, e, como veremos mais tarde, tudo o que assumimos como nosso, e que engrandece a nossa individualidade. A “verdade” criada pela nossa mente é, pois, aquela que garante a nossa satisfação pessoal e a nossa superioridade em relação aos outros, a que satisfaz e acaricia o nosso ego.

O impacto em nós, de tudo o que nos é exterior, é avaliado pela nossa mente racional, em função dos parâmetros do nosso ego, gerando uma relação afectiva em relação ao que nos é exterior. Esta manifesta-se no nosso corpo sob a forma de emoções. Se este impacto satisfaz ou acaricia o nosso ego, se vai de encontro à “nossa verdade”, gera-se uma relação afectiva amistosa com esse algo, que origina no nosso corpo emoções que chamaria de “positivas”, porque nos fazem sentir bem. Se este impacto é avaliado como impedindo a nossa satisfação pessoal ou a concretização da nossa superioridade, prejudicando o nosso ego, contrariando a “nossa verdade”, gera-se uma relação afectiva de rejeição, que origina no nosso corpo emoções “negativas”, habitualmente sob a forma de medo, em qualquer das suas variantes, revolta, raiva, ódio….

Assim, o nosso ego faz com que vivamos em permanente competição a fim de provarmos a nossa superioridade, mas, como tudo o que nos é exterior representa sempre um risco para este nosso ego exacerbado, vivemos alimentando constantemente o medo e tornando-nos infelizes.


Entendo que todos nós devemos crer evoluir, todos nós devemos crer crescer como seres humanos. Para tal, é normal que nos queiramos experienciar em todas os aspectos da materialidade, é normal que aceitemos novos desafios. Mas a nossa evolução não significa que não queiramos que os outros evoluam, aliás devemos alegra-mo-nos com a evolução dos outros, pois, como fazemos parte de uma raça e de um Todo, só podemos beneficiar com a sua evolução. Para alguém que entenda quem realmente É, para alguém que entenda que é parte de um Todo, e, por isso, ama e vive como o Todo que É, será incompreensível que queira competir para ser “melhor” do que o outro, pois o que faz sentido é que se alegre com o crescimento do outro.

Nós deveremos aceitar o desafio de crescer, logo de nos conhecermos melhor para aprendermos a ser mais conscientes e mais evoluídos do que éramos, pois é para isso que aceitámos o desafio de viver; mas não temos de ser “melhores” do que ninguém, simplesmente devemos ser “melhores” do que nós próprios éramos. A nossa evolução está muito dependente da evolução da sociedade em que nós nos inserimos, pois nós evoluímos condicionados pelo exterior, pela sociedade em que vivemos; logo, quanto mais consciente for a sociedade em que vivemos, quanto mais a sociedade evoluir, quanto mais os outros evoluírem mais nós evoluímos.
                                                                                 


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