Thursday, 6 February 2014

O Nascimento do ego em cada ser humano

O Nascimento do ego em cada ser humano


Nós homens, crescemos como entidades individuais e como raça humana e o crescimento de ambas influenciam-se e condicionam-se mutuamente. Assim, a Sociedade humana, como veremos mais tarde, é a principal responsável pela criação de egos exacerbados, mas são também estes que suportam a manutenção dos padrões desta sociedade humana que incentivam este crescimento desmesurado do ego nos homens. Em consequência, como veremos, a sociedade incentiva os homens, de forma directa ou indirecta, a viverem como ilhas e a afastarem-se uns dos outros e do que os rodeia.



A criança nasce com uma mente vazia, não se conhece, não tem consciência de si própria.  Os seus órgãos sensoriais estão virados para o exterior  e permitem-lhe o contacto com o meio envolvente e o seu cérebro em função da resposta exterior e do impacto na sua entidade vai começando a dar significado ao que lhe é exterior e a valorá-lo. Através dos sentidos e do seu cérebro, observa, sente e interpreta como os outros a vêem e sentem, e assim começa a cria uma imagem reflexiva de si própria a partir dos outros.


Quando a criança nasce o primeiro contacto é a sua mãe. A criança toma consciência da mãe antes de tomar consciência de si própria. Esta reage de determinada forma com o seu filho. Se o ama, se o acaricia, o filho pode captar esse carinho, esse amor, e sente-se bem, sente-se amado. Este amor por si que vem de alguém que lhe é exterior, mas que é sentido pela criança, vai ficar nela gravada e condiciona positivamente o seu desenvolvimento futuro. Se os pais dizem que é bonito que é inteligente, ele achar-se-à bonito, inteligente …. A imagem que a criança terá de si é a que lhe foi transmitida pelos outros, começa, habitualmente por ser a imagem que lhes é transmitida pelos seus pais, neste caso a de alguém que é amado, que é bonito, que é inteligente…. Este amor dos seus pais, que marca as primeiras impressões que o bebe tem de como foi recebido pelo mundo que lhe é exterior, será sempre muito importante para o seu futuro e poderá ajudá-lo a criar afectos e a ligar-se mais facilmente aos outros.


Infelizmente muitas vezes a imagem que é reflectida pelos seus pais e pela sociedade é negativa o que provavelmente poderá fazer com que a criança tenha de si uma imagem negativa, que irá condicionar o seu futuro de forma igualmente negativa. Poderá tornar-se carente, como mais medos, mais agressiva, com mais dificuldade de se relacionar com os outros.


Assim, a criança, no início do seu desenvolvimento, só conhece a imagem que os seus pais e as pessoas que se encontram mais próximas tem de si, não se conhece verdadeiramente, simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito e sente as emoções associadas a essa imagem e reage aos outros, ao que lhe é exterior, com emoções semelhantes. A identidade da criança o seu ego são pois criados a partir do exterior.

                                                                                 
Quando nasce só tem reflexos inatos para garantir minimamente a sua sobrevivência, mas não tem uma mente com conhecimentos que lhe permita conhecer-se a si própria e desta forma condicionar o seu desenvolvimento.



Naturalmente que no decurso da vida muitas circunstâncias irão alterar a forma como a criança se relacionará com o mundo. A sociedade, por exemplo, incutir-lhe-à, os seus padrões, entre eles a necessidade de ser “superior” para singrar na mesma. A sociedade vai-lhe, assim, impondo padrões e formas de interpretar o mundo.


A mente continuar-se-à a desenvolver de tal forma que, com base nas memórias que foi adquirindo, começa a criar imagens da sua identidade muitas vezes diferentes das que o que lhe é exterior tem de si. Infelizmente é geralmente o medo que acumulou pela formação que teve durante o seu crescimento que condicionam estes cenários, pelo que a maioria das vezes são negativos e nada têm que ver com a realidade no momento.  


Este processo de formatação geralmente vai se mantendo no decurso da nossa vida, pelo menos até que desenvolvamos uma Consciência que nos permita libertar-mo-nos deste ego que a sociedade nos incutiu.


Mas este ego que criámos condicionado pela sociedade em que nascemos e crescemos irá influenciar decisivamente a nossa vida em todos os seus aspectos, reflectindo-se, nomeadamente na nossa forma de pensar, nas nossas palavras e acções. 



Contudo, a Alma que habita o nosso corpo, em função de circunstâncias várias, nomeadamente do seu nível evolutivo, pode também ter maior capacidade interventiva, e desta forma moldar a nossa reacção reflexiva ao que nós é exterior, podendo, de alguma forma, ajudar-nos a seguir a via da ligação aos outros, do Amor.


Mas para a maioria dos homens, o que lhe é exterior continuará a ser o principal responsável pela definição da sua forma de pensar e de viver. O homem absorve os conhecimentos que a sociedade lhe transmite, assume a moralidade que a sociedade classificou como correcta, assume os padrões de vida que a sociedade pretende impor aos seus cidadãos, e geralmente fará o que achar que é necessário para agradar à sociedade, pois, pelas razões expostas, é sempre muito importante a opinião que os outros têm de si. A sociedade molda o ego dos homens para que eles não se tornem um problema para esse tipo de sociedade. Este modelo de homem gerado pela sociedade é depois transmitido pelos pais aos seus filhos. Assim, o ego e a identidade da criança começam a ser formados a partir do exterior e continuarão a sê-lo no decorrer do seu crescimento como homem, pela sociedade em que se desenvolve.

Contudo, o homem necessita de se conhecer verdadeiramente, de forma totalmente livre, liberto dos padrões que lhe foram impostos pela sociedade, necessita de saber quem realmente É, mas tal não pode ocorrer através de uma mente dominada pelo ego que foi formatado pela sociedade, terá para isso, como veremos de abandonar o ego e de deixar de ser dominado pela mente.


Contudo o abandono do ego não é algo fácil, está tão entranhado em nós, que mesmo após percebermos que não somos o nosso ego e querermos abandoná-lo, a nossa mente está tão viciada em alimentá-lo, que continua a gerar pensamentos obsessivos com esse fim. Assim, esse será um processo lento em que temos de nos habituar a estarmos constantemente atentos, a observar e a perceber as reacções da nossa mente dominada pelo ego, mas sem um envolvimento emocional, até que elas simplesmente desapareçam e com isso o ego se dissipe. Mas pelo caminho vão-se deparando muitas dificuldades, pois à medida que o ego se dissipa, começamos a deixar de ter pontos de referência, começamos a não entender quem somos, porque sempre considerámos que éramos o nosso ego. Sem essas referências que, contudo, tornavam o ego escravo dos padrões da sociedade, o medo agrava-se. Assim, como veremos, o processo de aceitação de que não somos o nosso ego tem de ocorrer no ambiente de uma profunda paz interior.



Como referi, uma vez que na origem do ego de cada homem está a mente que o criou, a mente não tem distanciamento suficiente para fazer uma análise isenta da sua evolução e dos vícios que criou, pelo que não será possível transformar-mo-nos a partir da mente. Só quando pararmos o ritmo frenético da mente poderemos ter acesso ao que somos de facto, à nossa Alma que se liga ao Todo de que fazemos parte, e então, podemos conhecer-mo-nos como o Todo que somos e deixar que seja a Alma a gerir a nossa vida ligando-nos ao Todo, à Fonte do conhecimento. A mente não nos abandona mas estará ao serviço da Alma, e traduzirá para o campo da materialidade o sentir da Alma.

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