Saturday, 18 June 2016

O MUNDO DA MATERIALIDADE




            O mundo da materialidade é o mundo ilusório da dialéctica dos opostos. É o mundo do yin e do yang que tudo possibilita, em que a relatividade de tudo em relação a tudo cria a aparente realidade, em toda a sua diversidade. Não há nada que não seja relativo a algo e a tudo. Para que algo exista, basta que não haja equilíbrio perfeito estático, tem de haver um fluxo, isto é um equilíbrio dinâmico em que tudo é yin ou yang entre si e em relação a tudo, de forma a proporcionar um fluxo. Tudo é movimento, isto é tudo é energia. Mas o movimento implica espaço e tempo. O nosso mundo ilusório que existe em função das dimensões espaço e tempo é regido pela Consciência Suprema de que a nossa consciência é parte. É o mundo da impermanência em que cada mente humana cria o seu mundo e a Consciência Suprema cria a aparente realidade. Esta temática é desenvolvida com mais detalhe nos meus livros.

O homem já aprendeu a criar uma realidade aparente, a partir das regras básicas da materialidade, da dialéctica do yin e do Yang. Assim, a partir do bit (que pode apresentar os valores 0 ou 1, ou verdadeiro ou falso, algo e o seu oposto entre os quais possa haver fluxo) criou o computador e outras tecnologias avançadas, que possibilitam toda a diversidade de cores, de formas e de movimento, que nós já titulamos como realidade virtual. Esta, apesar do aparente realismo,  já é entendida e aceite por nós como ilusória.

          A variação entre o Yin e o Yang que é a essência da matéria, não é mais que um fluxo constante de energia entre tudo, daí a relatividade de tudo em relação a tudo. Tal ocorre por exemplo no interior dos objectos, em que existe sempre movimento bem perceptível em alguns dos seus níveis organizacionais; ou entre o interior e o exterior, bem visível nos seres vivos. Aliás este último tipo de movimento é uma das principais características dos seus vivos, quando acaba a permanente interacção entre o interior e o exterior, o ser vivo morre. Tudo é um fluxo energético em sucessivos ciclos, desde a composição mais ínfima da matéria até à universal. Segundo a visão oriental tudo é constituído por energia. Esta é a característica básica da materialidade. O equilíbrio estático, corresponderá à falta de movimento, de energia, à inexistência. Assim, para os Orientais tudo é energia, seja ela o que denominamos por matéria – que para melhor entendimento poderemos classificar como energia “condensada” - palpável, detectável pelos nossos órgãos dos sentidos; seja ela fluída - como a que circula no nosso organismo mas que não se vê, a que os chineses chamam o Qi. A própria ciência ocidental já reconhece, nomeadamente através da “teoria das supercordas” ou da física quântica, a possibilidade da energia ser a base de tudo.

No mundo da dialéctica dos opostos, nada existe sem o seu oposto (o Yin e o Yang); o extremo frio e o extremo calor, o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. Não há interior, sem exterior, não há alto sem baixo, não há pesado sem leve…. Sem a existência de opostos, que só existem em função um do outro e por isso também são complementares, não há fluxo, logo não pode haver existência material. Geram-se fluxos em todas as escalas e níveis organizacionais e com múltiplas graduações e é isso que permite a existência de uma variabilidade e diversidade infinitas. Dentro dos limites de capacidade de adaptação do ser humano, podemos ter uma enorme diversidade de vivências, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista psicológico. Elas dependem essencialmente das nossas opções. Podemos optar por ser mais gordos ou mais magros, pelo calor ou pelo frio, pelo medo ou pelo amor … E uma vez que tudo é relativo a tudo, as nossas opções condicionam a nossa vivência a todos os níveis, mas também a do “mundo” que nos rodeia. O nosso “mundo”, o “mundo” da dimensão espaço temporal é assim um “mundo” da imaginação de Deus, nomeadamente através da nossa imaginação, porque todos e tudo é Um.  Ele experiencia-se através de nós, mas dando-nos a liberdade de tomarmos as nossas decisões. Podemos considerar que estamos na escola da vida a aprender. Mas, porque ainda não nos conhecemos plenamente nem conhecemos o mundo da materialidade, a maioria das vezes nem nós entendemos conscientemente as decisões que tomamos nem como elas influenciam o nosso futuro. Ainda não compreendemos  o belo mundo da ilusão onde nos encontramos.
           

Thursday, 26 May 2016

A CONCEÇÃO DO DIVINO


    Nós humanos queremos conhecer Deus através da nossa mente racional, que é condicionada pela nossa evolução, nomeadamente pelos raciocínios viciados gerados por influência do nosso ego. Assim, a nossa mente tem vindo a criar um Deus, ou Deuses à nossa imagem e semelhança, com a nossa forma de pensar e as nossas emoções. Desta forma consideramos que Deus tem desejos (como se ele não fosse tudo ou não tivesse tudo, como se precisasse de alguma coisa) e que pensa como nós, e, por isso, quer que sejamos “bons” (de acordo com os nossos conceitos subjectivos de “bom”); que julga, como nós nos julgamos uns aos outros (catalogando, os outros e os seus actos como “bons” ou “maus”, de acordo com os nossos conceitos). Consideramos que também tem emoções como nós, e se nós não fizermos o que Ele quer, se não formos “bons”, revolta-se connosco e condena-nos com penas extremamente cruéis (pelo que fizemos num escassíssimo período de tempo – uma vida humana – pode condenar-nos para a eternidade); mas se lhe agradarmos, se fizermos o que Ele quer e o deixarmos satisfeito, se formos “bons”, dá-nos um prémio (pelo que fizemos num escassíssimo período de tempo – uma vida humana – permite-nos viver eternamente felizes, no mundo dos espíritos). Deste modo, consideramos que Deus nos trata como muitas vezes nós tratamos os nossos filhos, retirando-lhes a liberdade, condicionados pelo nosso ego. Apesar de ainda não nos conhecermos e não termos aprendido a viver como seres felizes, consideramo-nos Seres tão inteligentes e evoluídos, porventura os mais evoluídos ou mais importantes do(s) universo(s), que sabemos tudo e até sabemos como Deus pensa. Porventura consideraremos que talvez Ele não seja muito mais evoluídos do que nós e por isso se regerá pelos nosso padrões.


Assim, cada homem vendo Deus à sua imagem e semelhança, quer-se comportar como um Deus, ou pretende ser um Deus, pois, só assim se entende que considere que pode racionalmente conhecer Deus. Cada um de nós funciona como um Deus isolado, considerando que pode viver independentemente dos outros e do que o rodeia, pelo que só os seus interesses contam e são importantes. Cada ser humano, como ser supremo que julga ser, pretende que o Deus, que criou à sua imagem, exista para o servir. Cada um de nós quer que tudo funcione de acordo com os seus interesses. Mas como os interesses de cada um chocam com os interesses dos outros, obviamente que se uns obtêm o que querem, os outros não o podem obter. Então Deus será “bom” para uns e “mau” para outros.  

   
O homem se quiser conhecer Deus tem de sair da sua mente racional. Tem de se desligar dos seus pensamentos obsessivos, condicionados pelo ego, que viciam e turvam a sua visão e que levam à gestação de emoções no seu corpo que o isolam ainda mais. Tem de procurar a paz no mais íntimo de si próprio, de forma totalmente livre, despreocupada, desprendida. Aí no vazio do seu corpo e mente encontrará a luz que o liga à dimensão divina. É aí que, em total liberdade, tem acesso à sua Alma, que é parte do Todo, de Deus, logo é aí que se liga a Deus e que o pode conhecer. É aí que pode sentir o que verdadeiramente É. É aí que o “insight” lhe permite que a sua mente tente traduzir para palavras o que é Deus, que é intraduzível. Só de uma forma aproximada se pode tentar traduzir, pois ele só pode ser conhecido, de facto, não pela nossa mente, mas pela nossa Alma, sentindo-O no mais íntimo de nós próprios.


Então, cada um de nós pode compreender quem É, entender que não é um ser isolado, mas parte de um Todo. Entenderá que nada existe isolado, muito menos os seres vivos (que por natureza só podem existir em interacção com tudo o que os rodeia), só então compreenderão que os seres humanos sozinhos não podem ser Deuses. Quando entenderem que, de acordo com a própria concepção de Deus, Deus é tudo o que existe, compreenderão que só poderão assumir a Consciência do Deus que São, quando estiverem em união com Tudo o que existe, quando forem Um com tudo, com Ele.     Compreenderão que, cada um de nós, só poderá ter um crescimento individual sustentado, quando, de alguma forma, este estiver ligado ao crescimento da humanidade e de Tudo. Quando cada um evolui na perspectiva do crescimento do Todo, torna-se Feliz, cria felicidade à sua volta e ajuda a humanidade a crescer como um Todo; mas, quando pelo contrário, cada um pretende crescer separado dos outros, ou contra os outros, no sentido do incremento do ego, torna-se infeliz, “regride[1]”, cria infelicidade à sua volta, e, de alguma forma, ajuda a humanidade a “regredir” no seu conjunto.


Por contraditório que pareça, quando cada um se virar para si e se redescobrir no mais íntimo de si próprio, encontrar-se-á com Deus, logo será Um com toda a existência. No mundo da dialéctica dos opostos, nada pode existir sem o seu oposto, que também lhe é complementar, mas no mundo do Absoluto não existem opostos nem complementares, tudo é Um.


O homem deverá entender que Deus ou o Todo dá-nos total liberdade e de forma magnânima, simplesmente cria condições para sermos o que decidirmos ser. Estabeleceu e mantêm regras de causa e efeito que nos permitem caminhar no sentido da felicidade, ou da infelicidade, sempre em total liberdade. Cabe a cada um de nós decidir qual o caminho que quer seguir. Se quer evoluir no sentido da união e da felicidade ou se quer evoluir no sentido da separação e da infelicidade. Deverá entender que não é Deus que define o destino de cada homem, mas é o próprio homem que o define. Só então deixará de culpar Deus pelas suas decisões.



[1]  Quando refiro que “regride”, quero significar que, se o objectivo é crescer como um Ser feliz, está a caminhar no sentido inverso, no sentido da infelicidade. Utilizei o termo regredir para, com poucas palavras, expressar a ideia. Contudo, é um termo que tem uma conotação negativa que não me agrada, pois entendo, que só podemos conhecer “o mais” se conhecermos “o menos”, não podemos conhecer algo se não conhecermos o seu oposto, logo não há “o bom” nem “o mau” só há o que funciona, ou não, de acordo com o objectivo que decidimos ter.   

Sunday, 10 April 2016

A formação das emoções básicas - O Medo e o Amor


A nossa mente racional analisa tudo o que nos é exterior, tendo em conta o impacto que tem em nós. A entidade que vamos criando ao longo da vida, onde são registados os parâmetros da nossa identidade, que servem para medir esse impacto, é o ego. Assim a nossa mente analisa tudo em função do nosso ego e em função dessa análise, o nosso corpo gera uma reacção, uma energia, a que chamamos de emoção que incentiva ou condiciona a acção.

Se a nossa mente concluiu que existe risco para a individualidade é gerado medo. Mas o nosso ego para além da preocupação com a preservação da individualidade física, vai criando, cada vez com mais intensidade, a pretensão de mostrar que a nossa identidade é superior à dos outros, por força dos conceitos que a sociedade vai imprimindo em nós.  De facto a sociedade incute-nos a ideia de que só podemos singrar neste mundo material, se tivermos sucesso nesta sociedade de competição criada pelo homem. Desta forma, já não existe só o risco de não sobrevivermos fisicamente, mas também existe o risco de não sermos superiores aos outros e em consequência não triunfarmos nesta nossa sociedade. 

O ego que domina a nossa mente e o medo que lhe é inerente são os grandes responsáveis pela defesa extremada da individualidade material. Este medo provoca reacções fisiológicas no nosso organismo que criam condições para ele se defender dos “perigos” reais, ou até dos imaginários gerados pela mente. Se estas reacções não se concretizarem numa resposta do organismo, não ocorre a descarga da energia gerada pelo organismo para se defender e esta acumula-se, provocando um excesso de tensão. Em consequência criam-se desequilíbrios energéticos e geram-se as doenças físicas. E como o medo motiva a nossa mente a continuar a laborar, a gerar obsessivamente pensamentos, que por sua vez criam mais emoções, aparece o “stress” e surgem diversos tipos de doenças psicológicas e as doenças físicas também se agravam.
           
Se respondermos com reacções violentas aos indivíduos que o nosso ego identifica como sendo um obstáculo às suas aspirações, ou como representando um perigo para a nossa identidade física, aumentamos o sofrimento em nós. Habitualmente surgem mais emoções derivadas do medo, que nos podem levar a continuar a agredi-los física ou psicologicamente. Depois, entramos num ciclo interminável de reacções em que o medo alimenta a mente e os pensamentos obsessivos, e estes por sua vez alimentam o medo, gerando cada vez mais sofrimento em nós. Estas emoções e reacções não só nos afastam cada vez mais dos outros, como nos destroem por dentro, gerando sofrimento e podem também destruir os que são objecto das nossas reacções. Gera-se um clima de infelicidade em ambos. Estas emoções e reacções que tem em vista proteger a nossa individualidade, põem em causa a individualidade dos outros, afastam-nos deles e destroem-nos interiormente.

Nestas circunstâncias o medo é a emoção da individualização, da separação dos outros e do sofrimento. Pode manifestar-se, no nosso dia a dia, através das emoções dele derivadas que lhe dão suporte, que denominamos por emoções negativas: a raiva, a revolta, o ódio, a inveja… Assim, o medo e estas emoções dele derivadas são os grandes responsáveis pela infelicidade do homem

A nossa mente e as emoções a ela ligadas derivam da evolução da nossa componente material, do animal que se desenvolveu em todos nós. Em consequência  somos impulsionados por estas nossas características animais a viver em função da mente e do medo. 

Mas em oposição à individualização está a ligação aos outros e a tudo o que nos rodeia. Esta ligação a tudo corresponde à nossa essência, à expressão do nosso Ser interior, pelo que todos nós, mesmo que de forma indelével sentimos esta ligação. Se deixarmos crescer a nossa sensibilidade perceberemos que é o sentir desta ligação que nos proporciona a paz interior e a felicidade. Acresce que ao encontrarmos paz geramos equilíbrio em nós, torna-mo-nos mais saudáveis.

O sentir do que Somos, pode ser reforçado pelo entendimento de que fazemos parte de um Todo e que se não estivermos em harmonia, em equilíbrio com o Todo, não podemos ter futuro em termos físicos, nem conseguiremos ser felizes.   

A defesa da individualização é feita pela nossa mente sob o domínio do ego e é suportada pelas suas análises, que catalogamos como racionais. Mas a ligação aos outros e a tudo o que nos rodeia é suportada pela nossa Alma, que se expressa através do sentir. A mente racional alimenta o medo, enquanto a nossa Alma se expressa pelo Amor incondicional.

          
As emoções e as reacções orgânicas de cada um, são diferentes de pessoa para pessoa. Algumas, principalmente devido a características herdadas ou adquiridas, reagem a determinada situação de forma intempestiva, exaltada, com emoções extremadas, enquanto outras podem ter emoções mais equilibradas ou ténues. Estas emoções condicionam também a mente, que para responder a emoções extremadas geram mais argumentos, os quais inflacionam as emoções e as consequentes reacções do indivíduo. A sociedade e o meio social especifico em que se inserem são também grandes condicionadores da formação da nossa estrutura mental e e das nossas emoções. Contudo, para além de todos estes condicionantes  e das circunstâncias em que as situações ocorrem, a consciência de cada um no momento, é decisiva para a graduação das suas reacções emocionais.

A nossa consciência pode ter sempre uma palavra a dizer na forma como a nossa mente funciona e com são geradas as emoções. Quando, fruto da caminhada que vamos percorrendo, através desta e de outras vidas, nos conseguimos conhecer intrinsecamente e começamos a sentir que nós somos a nossa Alma, criamos condições para deixar que Esta aflore na nossa vida. A nossa Alma pode então gradualmente começar a gerir as nossas acções, e a nossa vida como seres humanos transforma-se. Passamos a viver envolvidos por uma profunda paz interior, pois sentimos que só podemos crescer e ter futuro em união com o Todo, que todos Somos, e o Amor incondicional passa a ser o sentimento sempre presente na nossa vida. Desta forma aprendemos a ser felizes e, se muitos de nós nos encontrarmos neste patamar evolutivo, conseguimos elevar a consciência da humanidade para um patamar superior.

Nós somos Seres livres e por isso podemos deixar de ser dominados pelo ego e pelas características herdadas, definindo a cada momento o que Somos, e em consequência como vivemos a nossa vida. Para tal, temos de aprender a conhecer-mo-nos intrinsecamente a fim de que ao conhecermos quem Somos, deixarmos que o que Somos, a nossa Alma, que é parte do Todo, passe a gerir as nossas vidas.


Monday, 14 March 2016

A Libertação do ego

Pela criação de paz interior


Para criarmos paz interior, temos, em primeiro lugar, de deixar de ser escravizados pela nossa mente. Esta como sabemos, condicionada pelo nosso ego cria pensamentos obsessivos que só geram agitação mental e emoções negativas. Deixemos de nos preocupar em racionalizar tudo e passemos a sentir “com o coração”. Deixemos de usar a mente para alimentar o nosso ego, analisando qualquer situação que ocorra em função do impacto que tem em nós e gerando medo. Limitemo-nos a estar presentes, observando o que acontece e o que sentimos, como se fossemos uma entidade externa. Se cultivarmos o silêncio da nossa mente, criaremos paz interior e abriremos um portal para a nossa Alma aflorar. Será a nossa Alma, que tem uma sabedoria imensa, que a nossa mente racional dominada pelo ego não entende, que apreciará o acontecimento e aceitará em paz o que ocorre.


Criemos o hábito de serenar a nossa mente para criar paz interior. Os que nos rodeiam poderão beneficiar dos efeitos positivos proporcionados pela nossa paz transbordante. Desta forma daremos a nossa contribuição para que a humanidade possa globalmente evoluir para um patamar de Consciência Superior. A paz interior na nossa vivência diária pode ter início na criação de hábitos que contribuam para aquietar a mente, como sejam a Meditação, a Auto-hipnose, ou outros que cumpram o mesmo objetivo.

Saturday, 5 March 2016

A Libertação do ego

Pela mudança de paradigma do “ter” e do “fazer” para o “Ser”


Muitas vezes o nosso ego diz-nos que para singrarmos na vida, tudo o que fazemos tem de ser perfeito. Por vezes vivemos angustiados, enquanto estamos a realizar uma tarefa, devido à ânsia da perfeição. Contudo, o mais importante não é o que fazemos, mas sim o que “Somos”, enquanto “fazemos”. Estamos na terra para aprender a “Ser” em todas as circunstâncias, mesmo enquanto estamos a “fazer”.

O importante é nós sermos seres felizes e isso tem mais a ver com o que Somos do que com o que fazemos. Nunca esqueçamos que não podemos viver o passado ou o futuro, só podemos viver o presente, logo é no “agora” que temos de ser felizes. Quando só nos preocupamos com o que fazemos com o intuito de tirar proveitos futuros, como estamos condicionados pelo nosso ego que nos diz que temos de ser os melhores para garantir um futuro melhor, se a tarefa não corre como esperado, revoltamo-nos connosco próprios e descarregamos nos outros a nossa frustração, pois ficamos dominados por emoções negativas. Estas emoções negativas tornam-nos infelizes e provocam-nos problemas físicos, mau humor e má relação com os outros. Nesta situação o nosso ego vai-nos dizendo: - tu, és o maior! Tudo o que fazes tem de ser bem feito, mas tens de ter compensação por isso! Se não te compensarem não te fiques, tu mereces! “refila” com eles, revolta-te, faz valer os teus interesses!!!. Nesta situação estamos a projetar-nos negativamente no futuro e não apreciamos o presente, porque a preocupação no futuro impede-nos de sermos nós próprios no presente.
Somos dominados pela nossa mente que julgamos racional, mas que se encontra condicionada pelo nosso ego, que tem por intuito provar que somos superiores. Para o ego, o importante não é o que Somos interiormente, é a manifestação exterior que importa para daí tirar proveitos futuros, mas não é isso que nos faz felizes.

 

É ótimo quando gostamos do que fazemos e somos felizes, mas isso só ocorre quando interiormente estamos em paz connosco próprios, enquanto fazemos, porque estamos a ser nós próprios. Então a nossa felicidade irradia para os outros. Quando conseguimos libertarmo-nos do ego e estar interiormente em paz durante o trabalho, até uma actividade monótona se pode tornar agradável. O trabalho não necessita de ter a conotação negativa que muitas vezes lhe atribuímos, pelo contrário pode corresponder a um tempo muito agradável, se aprendermos a estar nele “com o coração”, libertos do nosso ego. O que nos faz atribuir uma conotação negativa ao trabalho, são as memórias do passado relativas a situações semelhantes que têm emoções negativas associadas. Geralmente não é a situação presente que nos leva a atribuir essa conotação. Outras vezes o que faz com que atribuamos essa conotação negativa é a voz do nosso ego que nos diz que aquele trabalho é inferior ao que merecemos,  não serve para o nosso estatuto. Para que tal não aconteça e consigamos estar em paz, temos de efetuar as tarefas que se nos deparam inteiramente presentes, libertos das memórias do passado e dos condicionamentos do nosso ego, estando simplesmente ali, por inteiro.

A paz interior e a felicidade estão ligadas às emoções positivas que resultam da aproximação ao nosso Eu interior e aos outros e não às emoções negativas que resultam do nosso ego, da nossa maior individualização. Estas separam-nos dos outros. Não esqueçamos que o nosso Eu interior está ligado aos outros e a tudo. A paz e a felicidade estão assim ligadas ao amor, e consequentemente à alegria que, por via desse amor, propiciamos aos outros e desta forma a nós próprios. A construção da felicidade pode começar por pequenas coisas. Pode começar pela alegria que uma brincadeira nossa gera nos outros. Em consequência também nós ficamos satisfeitos pela alegria que lhes proporcionámos. A repetição destes pequenos gestos faz com que vamos criando afeto àqueles que nós tornámos um pouco mais felizes, e vamo-nos sentindo cada vez melhor, mais ligados aos outros. Como o mais importante enquanto fazemos algo, é o que estamos a Ser, enquanto estamos a fazer, nós sentimo-nos ligados ao nosso companheiro, porque é o nosso Eu interior que lidera o processo.  Então, mesmo numa situação difícil temos compreensão por ele. Se, por exemplo, ele não entende determinada tarefa, e nós brincando a explicamos, ele torna-se mais bem disposto, e como deixa de estar pressionado, de estar em “stress”,vai entendê-la melhor. O sorriso dele, a relação que se estabelece com ele, é que é importante e é ela que nos vai ajudar a ambos a sermos mais felizes.  As nossas obras nascem e crescem mais perfeitas, quando deixamos de estar preocupados em ser perfeitos, quando nos libertamos do “stress”e ficamos inteiramente conscientes do momento.
Se queremos ser felizes devemos tentar fazer o melhor, mas sempre de forma descontraída e não movidos por interesses meramente egoístas. Não pondo a tónica em tirarmos dividendos próprios, mas para nos sentirmos bem connosco próprios. Se procedermos desta forma até o “stress” se irá reduzindo gradualmente. Não criemos expectativas quanto ao resultado do que fizermos, deixemos simplesmente acontecer e aceitemo-lo, mesmo que não seja o esperado. Assim não criamos emoções negativas. O importante é aceitarmos o que acontece seja o que for. Confiemos que, se enquanto fizermos algo estivermos conscientes, o “universo” dar-nos-á o melhor para nós. Contudo, contrariamente ao que pensa a nossa mente racional dominada pelo nosso ego, o melhor pode não ser ter melhores condições físicas, mais riqueza ou mais dinheiro; pois não é o “ter” que nos faz felizes; muitas vezes é perdendo a necessidade de nos mostrarmos importantes e tornando-nos mais humildes, que nos ligamos mais aos outros e nos tornamos seres mais felizes.
Enquanto fazemos algo, não criemos expectativas, limitemo-nos a ser o que Somos. Seres que são Um com os outros. Abandonemos o ego pois ele só nos produz em nós infelicidade. 

Sunday, 21 February 2016


São os desafios do dia a dia que nos proporcionam oportunidades de crescermos. Ao que a maioria das pessoas chamam “problemas”, eu posso chamar desafios, mas prefiro a designação de “oportunidades de crescimento”, pois sem elas não poderíamos aprender, não poderíamos crescer. Não geraríamos alegria por ter conseguido vencer aquele desafio. Contudo, no campo da materialidade, tudo obedece à dialéctica dos opostos, existem sempre duas faces. Poderemos sempre vencer o desafio, ou pelo menos aceitar o resultado, ou poderemos não aceitar o resultado. Conforme a nossa posição perante o resultado seja uma ou outra, podemos desenvolver emoções opostas, umas que nos ajudam a ligarmo-nos aos outros, a que chamo emoções “positivas”[1], outras que nos levam a separarmo-nos dos outros a que chamo emoções “negativas”. Quando resolvemos um “problema” e criamos uma ligação afectiva positiva, relativamente à pessoa, ao objecto ou ao acontecimento, desenvolvemos emoções positivas, de alegria, de contentamento ou até de amor. Se pelo menos aceitarmos a situação sem a vermos como “um problema”, ou geramos um sentimento positivo, como resultado de sentirmos que progredimos, que aumentámos a nossa capacidade de aceitação, ou pelo menos não desenvolvemos emoções negativas. Se quando não conseguimos resolver o “problema” não aceitamos a nossa incapacidade de o resolver, geramos, em sentido oposto, revolta, raiva, ódio. Estas últimas emoções alimentam a nossa mente e os nossos pensamentos tornam-se obsessivos, donde resultam mais emoções, num ciclo interminável. Infelizmente esta é muitas vezes a opção que tomamos, quando não aceitamos os resultados por eles não irem ao encontro dos interesses do nosso ego.

O desenvolvimento de emoções como a alegria, o contentamento, o amor, são emoções que nos ligam aos outros. Estas emoções irradiam para os outros, fazem com que eles também fiquem “contaminados” pelo mesmo tipo de emoções. Criam uma ligação afectiva “positiva” aos outros, isto é ajudam-nos, a todos, a sermos felizes. O desenvolvimento de emoções como o medo e seus derivados, raiva, revolta, ódio, inveja….,  separam-nos dos outros, gera nos outros emoções do mesmo tipo. Eu diria que com o primeiro tipo de emoções podemos caminhar para um nível de consciência mais elevado, aproximamo-nos da Consciência Universal, enquanto como segundo podemos seguir o caminho da infelicidade. Contudo, estamos sempre a tempo de inverter o caminho e tornarmo-nos capazes de aproveitar as oportunidades de crescimento e aprendermos a lição.  




[1]              Chamo emoções “positivas” as que nos ajudam a cumprimos o que entendo que será o principal objectivo de todo o homem, construir-se com um ser feliz, e “negativas” às que não cumprem este objectivo e pelo contrário geram infelicidade.

Sunday, 14 February 2016

A Libertação do ego - Pelo não julgamento

A Libertação do ego

Pelo não julgamento

O não julgamento resulta da aceitação. Quando aceitamos:

- Que vivemos no campo da materialidade, no domínio do relativo, que por isso se rege pela dialética dos opostos, em que nada existe sem o seu oposto que também lhe é complementar;

- Que, em consequência, não existe o Yin sem o Yang e por isso a nossa mente não pode conhecer o frio sem o calor, o alto sem o baixo…;

Reconhecemos a perfeição da materialidade. Então aceitamos tudo. Aceitamos as decisões de cada um, pois cada um é livre de optar pelo Yin ou pelo Yang.  Mas isso não é impeditivo que cada um de nós não possa tomar decisões diferentes. Cada um de nós conhecendo o calor pode sempre optar pelo frio. Conhecendo o medo pode sempre optar pelo amor.

Mas nunca devemos julgar os outros por seguirem um caminho diferente do nosso. Quando julgamos é porque não aceitamos, porque o nosso ego com o intuito de defender que a razão está do nosso lado, não aceita que outros pensem ou ajam de maneira diferente da nossa e assim, por insegurança, geramos medo de que a nossa individualidade não seja superior[1] e assim, não possamos singrar nesta sociedade de competição. Este medo pode manifestar-se nas suas múltiplas facetas, raiva, ódio, revolta…. Criamos, assim, mais afastamento dos outros.

Quando não julgamos e aceitamos, esta forma de estar pode permitir o desenvolvimento de sentimentos positivos de aproximação aos outros, pode permitir que o amor aos outros nasça e floresça. Para a maioria de nós, que amam os seus filhos, torna-se mais fácil aceitá-los sem julgamentos, porque o amor é mais forte do que as emoções negativas, do que o medo. No entanto, quando se trata de outras pessoas, relativamente às quais não tenhamos desenvolvido ligações afetivas tão próximas, é mais difícil aceitar o que não corresponda aos nossos pontos de vista. Aliás o nosso ego considera que para se desenvolver, para se mostrar superior aos outros, as suas ideias tem de vingar, tem de as conseguir impor aos outros.

Contudo aceitar as ideias dos outros, não significa que não mostremos os nossos pontos de vista se eles forem diferentes, mas devemos deixar sempre que os outros tenham os seus e façam as suas escolhas. É assim que procedemos com os nossos filhos quando os amamos incondicionalmente, dizemos-lhe o que pensamos, mas não geramos emoções negativas quando têm pontos de vista ou atuações diferentes dos nossos. Contudo, alguns de nós, por medo, para protegermos os nossos filhos, mesmo sem criar revolta, pretendemos impor-lhes a nossa forma de ver o mundo, impedindo-os, assim, de crescer. Como sempre refiro não é a experiência dos outros que nos permite crescer, mas a nossa experiência de vida.

Se não julgarmos os outros é mais fácil eles mudarem, se nós em vez de os julgarmos, formos compreensivos, podemos ajudá-los a transformarem-se, mas se os julgarmos e em consequência desenvolvermos emoções negativas, só conseguiremos gerar nos outros emoções negativas. As emoções negativas, ódio, raiva, revolta geram nos outros emoções semelhantes, que se perpetuam, e em consequência, o seu medo de perder a hegemonia agrava-se, levando a que se torne quase impossível a mudança. Nunca julguemos os outros, demos-lhe sempre oportunidade de seguirem o seu caminho e de crescerem.




[1]              O julgamento tem sempre por finalidade mostrar a nossa superioridade, contudo, para cumprir com este objetivo, tanto podemos valorizarmo-nos, como apontar os defeitos dos outros.