A Libertação do ego
Pela aceitação
Quando a nossa mente cria pensamentos
sobre o que aconteceu, e, sob a influência do ego[1]
não o aceita - contrariando toda a lógica, pois não podemos voltar atrás no
tempo e alterar acontecimentos - cria emoções negativas, como revolta, raiva…,
que nos causam sofrimento.
Assim, o primeiro passo para criar paz interior, não gerando emoções negativas
é aceitar o que aconteceu, pois é o único ato lógico. Após aceitar o que
aconteceu, e por essa razão ficarmos em paz connosco próprios, torna-se mais
fácil proceder às transformações que a situação exija, mas de forma serena e
lógica. Aceitação não é resignação,
pois esta pressupõe uma revolta interior, por nos considerarmos incapazes de
proceder à mudança. Neste caso as emoções associadas ao acontecimento não foram
eliminadas, simplesmente ficaram em “standby”, mas a germinar no nosso
subconsciente e, quando voltarmos a reviver situações semelhantes podem voltar
com mais força.
Quando tal acontece torna-se
difícil, quando ocorrem situações semelhantes às que despoletaram as emoções "stressantes" intensas, mantermos o estado de presença e impedirmos a nossa
mente de voltar a aceder às memórias passadas semelhantes, e em consequência
também não conseguimos parar o ritmo das emoções. Para conseguirmos viver no
presente temos de aceitar o nosso passado, ou se quisermos temos de o ter
perdoado. Viver no presente implica
estarmos em paz connosco próprios e só o conseguimos se não tivermos
desenvolvido a sensação de culpa pelos nossos actos passados, ou a revolta com
as situações que aí ocorreram. O nosso passado tem de estar bem resolvido,
para conseguirmos estar em paz. Temos de entender que como seres humanos que
somos vivemos na terra para aprender e esta aprendizagem faz-se com “erros” e a
sua superação. Quando superamos os “problemas” do passado, em vez de ficarmos
traumatizados com os “erros” que cometemos, devemos ficar alegres pois os
superámos e aceitámos, e, assim, já
temos condições de não os repetir, mas se tal ocorrer faz parte da condição
humana. Temos é de ser determinados e nunca desistir, e quando os
ultrapassarmos definitivamente devemos ficar felizes. O passado é passado, e
serviu o seu fim, ajudar-nos a crescer. Logo não há qualquer justificação para
mantermos a culpa ou a revolta que por vezes alimentámos durante tanto tempo.
Assim, devemos aceitar a vida tal como é e agradecer por podermos ter tido
“oportunidades de crescimento”, e as termos aproveitado. As situações
adversas do passado, mesmo que não tenham sido resolvidas de forma que nos
deixassem felizes da primeira vez que ocorreram, ao repetirem-se mais tarde e
terem sido ultrapassadas serviram para aprendermos, logo as situações adversas do
passado também nos podem dar alegria e ajudar-nos a sermos felizes no presente.
Ao aceitá-las criamos condições para podermos viver inteiramente no presente e
em paz.
A aceitação só é possível quando nos conseguimos libertar do ego, que nos agarra à materialidade e alimenta o
apego a tudo que o engrandece. Só então conseguimos relativizar tudo,
entendendo que o que é material não é importante, o que é importante é o que
nós Somos, e, em consequência, a relação que estabelecemos connosco próprios e
com os outros. Então, entendemos que só quando privilegiamos a relação de ligação
aos outros, quando privilegiamos o amor a nós próprios e aos outros,
conseguimos ser felizes.
É a nossa dependência do nosso ego,
que só se preocupa com a preservação do nosso corpo e com a nossa satisfação
material, que gera o medo e todas as emoções dele derivadas, e são todas estas
que nos impossibilitam de aceitar as situações que acontecem e nos tornam
infelizes. O ego é extremamente inseguro, e por isso gera medo que não
consigamos obter satisfação, ou ser superiores aos outros e enquanto nos
dominar não nos deixa ser felizes.
Assim, qualquer que seja a situação, só poderemos vivê-la de forma feliz se
utilizarmos sempre os mesmos princípios. Libertar-mo-nos do domínio do ego e do
medo que este gera; aceitarmos tudo o que acontece, o que só se torna possível
quando nos libertamos do domínio do ego; em consequência, criamos condições para
viver cada momento num intenso estado de presença, libertos dos pensamentos obsessivos
gerados pelo medo criado no passado pelo nosso ego. Ao agir assim, teremos
criado condições para que surja em nós alegria interior, e se reforce o nosso
amor a nós próprios e aos outros. Estaremos então aptos a, de forma totalmente livre,
gerir as nossas vidas e crescermos como seres felizes.
[1]
O ego é tão
obcecado pela defesa da individualidade, que faz com que a nossa mente se torne
irracional, pois condiciona o pensamento, obrigando-o a seguir o caminho que
ele ego considera que vai de encontro aos seus interesses, mesmo que esse
caminho seja “obtuso”, sem sentido, e portanto totalmente irracional.