Saturday, 13 September 2014

A Libertação do ego

Pela aceitação


Quando a nossa mente cria pensamentos sobre o que aconteceu, e, sob a influência do ego[1] não o aceita - contrariando toda a lógica, pois não podemos voltar atrás no tempo e alterar acontecimentos - cria emoções negativas, como revolta, raiva…, que nos causam sofrimento. 

Assim, o primeiro passo para criar paz interior, não gerando emoções negativas é aceitar o que aconteceu, pois é o único ato lógico. Após aceitar o que aconteceu, e por essa razão ficarmos em paz connosco próprios, torna-se mais fácil proceder às transformações que a situação exija, mas de forma serena e lógica. Aceitação não é resignação, pois esta pressupõe uma revolta interior, por nos considerarmos incapazes de proceder à mudança. Neste caso as emoções associadas ao acontecimento não foram eliminadas, simplesmente ficaram em “standby”, mas a germinar no nosso subconsciente e, quando voltarmos a reviver situações semelhantes podem voltar com mais força.

Quando tal acontece torna-se difícil, quando ocorrem situações semelhantes às que despoletaram as emoções "stressantes" intensas, mantermos o estado de presença e impedirmos a nossa mente de voltar a aceder às memórias passadas semelhantes, e em consequência também não conseguimos parar o ritmo das emoções. Para conseguirmos viver no presente temos de aceitar o nosso passado, ou se quisermos temos de o ter perdoado. Viver no presente implica estarmos em paz connosco próprios e só o conseguimos se não tivermos desenvolvido a sensação de culpa pelos nossos actos passados, ou a revolta com as situações que aí ocorreram. O nosso passado tem de estar bem resolvido, para conseguirmos estar em paz. Temos de entender que como seres humanos que somos vivemos na terra para aprender e esta aprendizagem faz-se com “erros” e a sua superação. Quando superamos os “problemas” do passado, em vez de ficarmos traumatizados com os “erros” que cometemos, devemos ficar alegres pois os superámos  e aceitámos, e, assim, já temos condições de não os repetir, mas se tal ocorrer faz parte da condição humana. Temos é de ser determinados e nunca desistir, e quando os ultrapassarmos definitivamente devemos ficar felizes. O passado é passado, e serviu o seu fim, ajudar-nos a crescer. Logo não há qualquer justificação para mantermos a culpa ou a revolta que por vezes alimentámos durante tanto tempo.

Assim, devemos aceitar a vida tal como é e agradecer por podermos ter tido “oportunidades de crescimento”, e as termos aproveitado. As situações adversas do passado, mesmo que não tenham sido resolvidas de forma que nos deixassem felizes da primeira vez que ocorreram, ao repetirem-se mais tarde e terem sido ultrapassadas serviram para aprendermos, logo as situações adversas do passado também nos podem dar alegria e ajudar-nos a sermos felizes no presente. Ao aceitá-las criamos condições para podermos viver inteiramente no presente e em paz.

A aceitação só é possível quando nos conseguimos libertar do ego, que nos agarra à materialidade e alimenta o apego a tudo que o engrandece. Só então conseguimos relativizar tudo, entendendo que o que é material não é importante, o que é importante é o que nós Somos, e, em consequência, a relação que estabelecemos connosco próprios e com os outros. Então, entendemos que só quando privilegiamos a relação de ligação aos outros, quando privilegiamos o amor a nós próprios e aos outros, conseguimos ser felizes.

É a nossa dependência do nosso ego, que só se preocupa com a preservação do nosso corpo e com a nossa satisfação material, que gera o medo e todas as emoções dele derivadas, e são todas estas que nos impossibilitam de aceitar as situações que acontecem e nos tornam infelizes. O ego é extremamente inseguro, e por isso gera medo que não consigamos obter satisfação, ou ser superiores aos outros e enquanto nos dominar não nos deixa ser felizes.

Assim, qualquer que seja a situação, só poderemos vivê-la de forma feliz se utilizarmos sempre os mesmos princípios. Libertar-mo-nos do domínio do ego e do medo que este gera; aceitarmos tudo o que acontece, o que só se torna possível quando nos libertamos do domínio do ego; em consequência, criamos condições para viver cada momento num intenso estado de presença, libertos dos pensamentos obsessivos gerados pelo medo criado no passado pelo nosso ego. Ao agir assim, teremos criado condições para que surja em nós alegria interior, e se reforce o nosso amor a nós próprios e aos outros. Estaremos então aptos a, de forma totalmente livre, gerir as nossas vidas e crescermos como seres felizes.



[1] O ego é tão obcecado pela defesa da individualidade, que faz com que a nossa mente se torne irracional, pois condiciona o pensamento, obrigando-o a seguir o caminho que ele ego considera que vai de encontro aos seus interesses, mesmo que esse caminho seja “obtuso”, sem sentido, e portanto totalmente irracional.

Tuesday, 27 May 2014

Livrando-nos do Apego - Ás pessoas; - Ao poder; - Ao tempo e ao sofrimento

Livrando-nos do Apego


Ás pessoas

Se formos condicionados pelo ego que agudiza a individualização, tornar-nos-emos cada vez mais separados uns dos outros. Em consequência, as emoções e os sentimentos que proliferam são de medo, medo de que não sejamos superiores aos outros e portanto que tenhamos menos hipóteses de sobreviver nesta sociedade de competição. Como temos noção que sozinhos, contra todos, temos mais dificuldade de singrar nesta sociedade, criámos um ego “mais alargado”[1], que abarca os que, de alguma forma podem ajudar a que nos tornemos superiores, ou o grupo que nos propicia condições para garantir a nossa satisfação pessoal, ou a nossa superioridade em relação aos outros. Então criamos apego a estes grupos enquanto eles servirem o nosso propósito de engrandecer o nosso ego. Tal não significa que não possamos ter sentimentos de união aos outros seres, de verdadeiro amor[2], mas muitas vezes estes sentimentos são mesclados com algum egoísmo, são condicionados pelo nosso ego, pelo que acabam logo que o nosso ego é posto em causa.

A ligação aos outros que decorre do nosso ego, não é mais do que apego, e este torna-nos infelizes e faz-nos sofrer. Quando as ideias do nosso grupo não triunfam, ou quando o nosso grupo não ganha, ou quando não acontece ao grupo, e consequentemente a nós que incorporámos o grupo, o que desejamos, geramos medo, sob múltiplas formas, revolta, ódio, raiva, inveja… O objecto destas emoções negativas são os outros a que passamos a chamar adversários, os que pertencem à família que nos “afronta”, ao outro partido, ao outro clube de futebol, à outra religião…. Estas emoções negativas fazem com que cada vez fiquemos mais afastados deles, mais separados. Estas emoções, alimentadas pelos nossos pensamentos obsessivos, germinam e transformam-se em sentimentos duradouros. Nós e todos os outros elementos que estão “em guerra”, e que, por via disso, geram emoções negativas, criamos, em consequência, infelicidade. Este apego e as correspondentes emoções e sentimentos, geradas por força do nosso ego, fazem crescer em nós o sofrimento.

Como estamos apegados aos outros por força do nosso ego, geramos medo, medo que o grupo não cumpra com os objectivos inerentes à sua constituição, medo que o grupo não se imponha aos outros, ou medo da separação, da perda; assim criamos sofrimento, pois o medo e o apego que dele resulta são sempre a causa do sofrimento. Esta necessidade de competição, este medo e este apego que resultam da nossa necessidade de nos mostrarmos superiores, só existem porque não nos vermos como um Todo e não aceitamos tudo o que ocorre, com a naturalidade que é inerente a qualquer acontecimento[3]. Assim, se algo corre mal com o grupo, ou se, por exemplo, perdemos algum elemento do grupo geramos em nós revolta, raiva… pelo que aconteceu. Estas emoções surgem, em maior ou menor grau, dependendo do nosso grau de apego. Mas, por exemplo no caso da perda, se o que nos une aos outros for simplesmente amor, e nos sentirmos como um Todo, sentiremos certamente tristeza, mas estaremos serenos porque sentimos que o outro continua em nós.  

Com seres humanos, irmãos na humanidade, que crescem em profundo interacção uns com os outros, condiciona-mo-nos mutuamente, e, por isso, evoluímos em conjunto. Só estando intimamente unidos como um Todo, podemos, individualmente e como raça humana, evoluir para um patamar de Consciência Superior. Contudo, tal só acontecerá se nos virmos como um Todo, não só como raça humana, mas unidos com tudo que nos rodeia e com que interagimos. Dito de outra forma, se o nosso ego for o Todo, for Deus. Neste caso, o sentimento que nasce em nós, e que prolifera, é o sentimento da união, é o Amor Incondicional.

Entenderemos, então, que não há qualquer intervenção divina que tenha em vista favorecer uns ou outros, que faça com que um grupo ganhe e outros percam. Neste estado de consciência, em que estamos libertos do nosso ego, entendemos que o que considerávamos ser “favorecimento de uns ou outros” não faz sentido. O que nos levava a considerar que a divindade poderia favorecer o nosso grupo ou os outros era o nosso ego. Neste estado entenderemos que, o que acontece a cada um, é a consequência directa ou indirecta, das nossas decisões[4], dos nossos actos, da vida que escolhemos. Podemos também entender que o que nos acontece, mesmo que aparentemente negativo, é muito importante para nós, pois é a oportunidade que nos está a ser dada para crescermos e tornar-mo-nos seres felizes. Logo, nada do que ocorre é negativo ou positivo, é simplesmente o que é, e cumpre a finalidade de dar-nos a oportunidade de crescermos.

 Por isso, se não formos dominados pelo ego, não criaremos apego e sentir-nos-emos simplesmente envolvidos pelo amor aos outros e pelo carinho, não geraremos sofrimento e aceitaremos tudo o que ocorre.


Ao poder

O nosso ego usa todas as armas para garantir a superioridade da nossa individualidade. Entendeu que quanto mais poder tiver sobre os outros, maior será o seu estatuto, e os outros podem considerá-lo superior, só pelo facto de ter poder. O poder sobre os outros permite-lhe também obter mais facilmente mais bens materiais para incorporar no seu ego, bem como dispor de mais seres humanos a gravitar às sua volta, pelo que o grupo de amigos ou de pessoas dele dependentes, que engrandecem o seu ego, aumentará. Também as suas ideias, só pelo facto de ter estatuto, tornam-se mais facilmente aceites pelos outros. Esta é pois, de acordo com o seu ponto de vista, a forma ideal de se promover, e consequentemente de aumentar o seu ego e mostrar a sua superioridade.

Um ser sem ego, pode ser muito interventivo na sociedade, por essa razão poderá até ser muito considerado pelos outros, estes podem considerar que tem um estatuto elevado, mas isso não é importante para ele. Por isso, não se mostra superior a ninguém, trata todos de igual forma, não se aproveita do estatuto que lhe atribuem para obter ganhos próprios. Como o seu objectivo é o bem comum, não é engrandecer-se pessoalmente, a sua prioridade é ajudar todos os outros. Preocupar-se-á em servir e não em ser servido. O seu crescimento e construção como Ser feliz, é o resultado da sua contribuição para o crescimento da humanidade, da sua união aos outros, do seu amor pela humanidade.


Ao tempo e ao sofrimento

Não faz sentido apegar-mo-nos a algo que sabemos está em constante mudança.

Quando nos apegamos a algo que já ocorreu, na expectativa que se volte a repetir, quando sabemos que é impossível de acontecer, pelo menos da mesma forma, estamos a produzir sofrimento. Também não é por pensarmos no que aconteceu que resolvemos situações passadas, pois, não podemos voltar atrás. “Ruminar” sobre o que aconteceu, tenha sido desagradável ou agradável[5] para nós, só produz sofrimento.

Apegar-mo-nos ao que esperamos venha a ocorrer, por um lado produz ansiedade (em face da expectativa da obtenção de determinado resultado), o que em si é uma forma de sofrimento, e, por outro, após chegar à data planeada, poder-se-á produzir mais sofrimento, quando verificarmos que as expectativas foram logradas, pois raramente o desejado ocorre exactamente como se pretende. Por esta razão, não adianta projectar-mo-nos no futuro e apegar-mo-nos a desejos.

Habitue-mo-nos pois a aceitar o passado, reconhecendo que, se já passou não pode ser alterado nem revivido; e podemos também planear o futuro, mas sem criar expectativas. Tomemos pois consciência que só podemos viver o presente, habitue-mo-nos a vivê-lo e a aceitá-lo. Não nos apeguemos ao passado nem ao futuro.

Só faz sentido apreciar o que ocorre no momento. Como vimos projectar-mo-nos no futuro e apegar-mo-nos a desejos, produz normalmente sofrimento, para além de que a satisfação fugaz obtida quando satisfazemos o desejo geralmente não compensa o trabalho e tempo gastos para o atingir, tanto mais que pode-nos ter impossibilitado de, durante o percurso, vivermos cada momento. Tomemos, pois, consciência que não podemos viver o passado nem o futuro, só podemos viver o presente, pelo que não adiante alimentar mágoas contra o passado, que já ocorreu, nem agarrar-mo-nos a um futuro incerto, que se desconhece e cujo apego só gera receio e ansiedade.

Tomemos consciência que qualquer apego só produz sofrimento e liberte-mo-nos do domínio do ego que o produz.

Percebamos que o apego à materialidade é fonte de infelicidade e privilegiemos a partilha do que Somos com os outros. Substituamos o “ter” pelo “Ser” e passemos a dar mais importância ao “sentir” do que ao “fazer”. Certo é que se enquanto fazemos algo, formos Seres de amor, o que fizermos sairá certamente perfeito. Passemos a sentir o que está à nossa volta, os outros seres, animais ou plantas. Apreciemos a beleza da natureza. Apreciemos o convívio com os seres que coabitam connosco neste planeta terra. Apreciemos o convívio com os nossos irmãos humanos. Vivamos plenamente o presente sentindo a beleza da vida.

Não deixemos que os pensamentos obsessivos invadam a nossa mente impedindo-nos de viver o presente.








[1] O nosso ego, abarca sempre muito mais do que o que nós somos, abarca o que nos é exterior e que o favorece, quer sejam ideias de outros, quer sejam bens materiais, quer sejam seres vivos ou até pessoas.
[2] Refiro verdadeiro amor, ou melhor dizendo amor incondicional, para o distinguir do egoísmo mascarado de amor, que só existe enquanto satisfaz o nosso ego. Nesta última situação quando o “nosso”  objecto de nosso amor chocar com o nosso ego, o amor pode dar origem a outros sentimento derivados do medo, como seja o ódio.
[3] Os acontecimentos são objectivos, ocorrem de forma natural, não são “bons”, nem “maus”, nós é que os catalogamos como “bons” ou “maus” em função do impacto que têm em nós, em fase da análise da mente condicionada pelo ego.
[4] As decisões e os actos podem ter sido tomadas individualmente ou com humanidade, mas reflectem-se em cada um de nós.
[5] Pensar, de forma obsessivo, sobre o que considerámos desagradável, gera, como referimos, emoções negativas que alimentam mais pensamentos, num ciclo interminável, que continuamente agrava o sofrimento. Pensar, de forma obsessiva, nas situações que considerámos agradáveis, só acontecerá se não estivermos felizes no presente, e ocorrerá, ou porque querem os que as situações se repitam, ou, porque, tendo um presente infeliz, refugia-mo-nos nas memórias passadas. Quer num caso, quer noutro, este apego ao passado só pode gerar sofrimento. A situação só se alterará, se passarmos a viver o presente, e o transformarmos num presente feliz. 

Wednesday, 30 April 2014

A libertação do ego, livrando-nos do apego às ideias e conceitos e aos bens materiais

A Libertação do ego

Livrando-nos do Apego


Às ideias e conceitos

As nossas ideias vão mudando lentamente. Em função das circunstâncias da vida, da nossa experiência, da nossa formação, dos nossos interesses de momento…, as nossas ideias vão sendo felizmente alteradas. Digo felizmente, pois todos devemos poder crescer, e o apego às nossas ideias impedir-nos-ia de crescer. Mas infelizmente a actualização das nossas ideias, mesmo que suportada por argumentos seguros, é sempre muito lenta e sujeita a enorme resistência por parte do nosso ego, que receia toda a mudança, pois considera que qualquer mudança lhe cria insegurança. Esta mudança torna-se ainda mais difícil porque as nossas ideais também são o suporte dos interesses do nosso ego.

O apego às nossas ideias também não nos torna superiores, como o nosso ego pensa, mas, pelo contrário, ao impedir-nos de abrir nossos horizontes, de evoluir, torna-nos menos capazes de crescermos como seres felizes.

Se queremos crescer como seres felizes, temos de ser capazes de resistir ao nosso ego e aos apegos que ele gera. Estejamos sempre receptivos a qualquer ideia que nos surja, ou que outros nos transmitam, não deixando o nosso ego intervir  “dizendo-nos ao ouvido” - não está correcta!, só porque não é nossa, ou porque contraria as nossas. Libertemo-nos do ego e observemo-las de forma livre, isenta. Não é um processo fácil, temos de sentir que o ego não nos domina e em consequência, deixar a análise fluir livremente. È um processo progressivo que se vai tornando mais fácil à medida que nos habituarmos a viver no estado de presença.


Aos bens materiais
Os bens materiais podem ser úteis, e propiciar-nos momentos de alegria, mas só nos tornam felizes se não criarmos apego. Se criarmos apego tornam-se fonte de infelicidade. Antes de os obtermos, vivemos em ansiedade. Esta ansiedade ocorre sempre que desejamos muito ter um determinado bem material. Podemos, por exemplo viver obcecados por ter um carro de determinada marca, não só pelas potencialidades do carro, mas, por vezes, simplesmente porque nos dá estatuto - não nos torna felizes, mas alimenta o nosso Ego. Muitas vezes prescindimos de fazer o que nos torna mais felizes, de conversar com os nossos amigos, de partilhar momentos com os familiares, pois precisamos de ganhar dinheiro, sujeitando-nos, muitas vezes, a fazer um trabalho que nos deixa descontentes ou infelizes, mas o importante é cumprir o objectivo, neste caso de comprar o carro. Quantas vezes a ansiedade pela obtenção de determinado bem material não nos causa até transtornos físicos ou psicológicos.  Depois de obter o bem material, podemos sentir alegria no imediato, mas com o tempo esta esfria, além de que com o tempo o estatuto que aparentemente nos proporcionaria torna-se insuficiente. Então precisamos de nos concentrar na obtenção de outros objectivos materiais, eventualmente que nos proporcionem igualmente estatuto. Criamos o vício de obter cada vez mais bens materiais. No caso do dinheiro, este vício é por demais expressivo. Quanto mais temos mais apego geramos. Por mais dinheiro que tenhamos este será sempre insuficiente. Continuamos a deixar de viver o dia a dia com os amigos ou familiares, ou connosco próprios, para nos alienarmos na procura de determinados bens materiais, num ciclo interminável.

O nosso Ego, ao apegar-se ao material, porque considera que nos torna superiores aos outros, ou porque criámos uma dependência irracional, impede-nos de vivermos o presente, faz-nos viver em função de objectivos futuros, que, quando atingidos perdem a importância e são substituídos por outros, ou, como acontece com o dinheiro, nunca ficamos satisfeitos, queremos sempre mais, e não vivemos o presente, não construímos a nossa felicidade que só é possível acontecer no presente.

Mas, o mais grave, é que para atingirmos estes objectivos materiais, por vezes consideramos que vale tudo, e “passamos por cima de todos”, rebaixamos os outros, criamos inimizades, alimentamos emoções negativos, e neste percurso, tornamo-nos infelizes e tornamos infelizes os que nos rodeiam. Depois, se algo acontece ao nosso objecto de apego, poderemos entrar em estado de choque, tornando-nos agressivos com os outros e ficamos infelizes. Contudo esta infelicidade, nada adianta, não repõe o estado original do objecto. Não é por nos embrenharmos nestes estados emocionais que o passado muda.



Assim, apreciemos simplesmente os bens que nos forem disponibilizados, apreciemos o momento que eles nos proporcionam, mas não criemos apego aos bens materiais se não queremos sofrer e tornarmo-nos infelizes.

Monday, 21 April 2014

Libertação do ego vivendo plenamente o presente

A Libertação do ego

Vivendo plenamente o presente, focados no presente


A principal fonte de alimentação do ego, é constituída pelos nossos pensamentos obsessivos, que ininterruptamente geram argumentos para criar a “nossa verdade” e garantir que se sobrepõe à de todos os outros. Estes pensamentos são alimentados pelas nossas memórias do passado, o que faz com que raramente estejamos a viver plenamente o presente. Mas, é difícil não dar importância a estes pensamentos que garantem a “ nossa verdade”, pois é esta que suporta todos os interesses do nosso ego. Desta forma os pensamentos que predominantemente invadem a nossa mente tem origem no passado e são resultantes do medo. Do medo de que não consigamos obter o que pretendamos no futuro, ou que alguém se sobreponha aos nossos interesses ou às “nossas verdades”. Assim, infelizmente grande parte do tempo estamos, de forma inconsciente, focados no passado, a gerar emoções “negativas[1].

Quando não estamos focados no passado, centra-mo-nos no futuro criando cenários, motivados pela incerteza de virmos a dispor de um futuro que satisfaça o nosso ego, gerando medo e ansiedade.

O segredo para não alimentarmos o nosso ego, através da nossa mente e dos pensamentos obsessivos é vivermos plenamente o presente, focados no presente.


 Para tal necessitamos criar o hábito de estar cientes de tudo o que fazemos. Quando andamos podemos estar atentos a tudo o que sentimos, podemos sentir os nossos músculos a movimentarem-se, as sensações que ocorrem no nosso corpo, o contacto dos nossos pés com o chão…

Quando observarmos uma árvore ou uma planta, faça-mo-lo sem preconceitos, sem julgamentos, sem intervenção da mente e das memórias associadas, como se for a primeira vez que a vemos, limite-mo-nos simplesmente a observá-la e senti-la. Nesta situação podem ocorrer momentos em que nos sintamos unidos a ela, como se saíssemos da dimensão espaço/tempo e nos uníssemos à planta; sentiremos a vida na planta, a sua beleza intrínseca, o que ela é de facto, sem a intervenção do nosso conhecimento da física e sem nos preocuparmos com o que a nossa mente considera que ela é.

Estejamos inteiramente presentes em tudo que fazemos. Mesmo quando conversamos, o que torna imperativa a intervenção da mente, podemos estar sempre plenamente conscientes da conversa, do que dizemos e do que os nossos parceiros nos dizem. Mas para tal não podemos deixar que a nossa mente liderada pelo ego nos domine, gerando argumentos por ele condicionados e medo de que a nossa individualidade seja posta em causa. Estejamos plenamente conscientes, observando a conversa como se nós formos uma entidade superior e exterior ao nosso corpo, não sujeita aos condicionantes que o corpo e a sua “partenair” mente egoica nos impõem e sejamos essa entidade superior, a nossa Alma, que observa a conversa de forma livre e desprendida. Sendo a nossa Alma, utilizemos a mente ao seu serviço e não deixemos que ela fique ao serviço da nossa individualidade material, do nosso ego que gera medo, e nos retira a possibilidade de estarmos ali em total liberdade. A nossa conversa será agradável e proveitosa, porque decorre em inteira liberdade, sem os condicionantes do nosso ego, sem termos necessidade de impor os nossos argumentos, a nossa “verdade” e sem qualquer tensão porque as emoções negativas derivadas do medo, não tem aqui lugar. É o caminho da consciência, se quisermos o caminho da união com o Todo, com Deus.






[1] O termo “negativas” é um termo subjetivo, como todos os conceitos criados pelo homem. Utilizo-o no sentido de que, se, como eu entendo, a aspiração do ser humano é ser feliz, estas emoções vão no sentido contrário desta aspiração, criando a infelicidade nos seres humanos. 

Monday, 31 March 2014

A Libertação de Mente Egóica

A libertação da Mente Egóica


Os bens materiais são úteis para nos ajudar a viver confortavelmente e crescermos felizes, mas só se não criarmos apego, se não servirem para incrementar o nosso ego mas para serem utilizados por todos de forma harmoniosa, de acordo com as necessidades de cada um. Se formos guiados, não pela nossa mente “racional” egóica, mas pelo nosso “sentir interior”, pela nossa Alma, sentindo-nos unidos com os outros, pondo à frente dos interesses de cada um, o interesse do Todo, de que também fazemos parte, tal propiciará o bem de cada um, de forma equilibrada. O Planeta terra disponibiliza-nos um manancial de “riqueza” e de oportunidades, mais do que suficientes, para garantir que todos possamos viver uma vida confortável e feliz.

Aliás, a disponibilização a todos e cada um dos bens que lhes permitam uma vida confortável (se não nos apegarmos a eles), pode permitir que possamos viver sem medos, em total liberdade, propiciando-nos condições e oportunidade de mais facilmente nos desenvolvermos como Seres. De facto, se os apreciarmos e sentirmos que pertencem a todos, para proporcionarem condições para um desenvolvimento harmonioso da humanidade, podem servir de trampolim para nos ligarmos ao Todo, e obviamente aos nossos semelhantes, e evoluirmos em conjunto para um nível de consciência superior.

Contudo, apesar da utilidade dos bens materiais não são eles que nos dão felicidade. A felicidade não pode ser encontrada fora de nós. O homem ainda não entendeu que o que o faz feliz não é o que lhe é exterior, até porque quer queira quer não, não faz parte de si, não são os bens materiais a que está apegado, mas sim, os sentimentos, que sente no mais íntimo de si e que o ligam aos outros, o que gera felicidade. O seu ego cria apego ao que lhe é exterior, e esse apego, à semelhança de uma doença auto-imune, vira-se contra ele, gera medo da perda. Este medo, resultante de existir a hipótese de com a perda se perder a hipotética superioridade relativamente aos outros, ou de não obter o pretendido, revela-se de várias formas. Como revolta por não conseguir ter algo; como raiva por os outros terem e ele não; como ódio aos que o impedem de ser superior; como ansiedade pela incerteza de no futuro poder ter uma vida que satisfaça o seu ego… Este medo, quaisquer que sejam as manifestações, como facilmente se entende, afasta-o dos outros e torna-o infeliz. Se nos libertarmos do ego e do apego, o amor pode brotar, gerando-se em nós um contentamento interior, um sentimento de ligação aos outros (pois todos somos o Todo). E, despojados de ego individual, porque também temos a certeza de que nada nos pode verdadeiramente fazer mal, até porque nem morremos, de facto, logo sem medos, torna-mo-nos seres felizes.

Como certamente já entendemos o maior obstáculo ao nosso crescimento como Seres felizes, é o nosso ego, que gera medo e as várias emoções negativas que nos separam dos outros.
Liberte-mo-nos, então do ego. Mas como nos podemos libertar o ego?

- Vivendo plenamente o presente;

- Libertando-nos do apego;


- Pela aceitação;


-Pelo não Julgamento;


- Pelo não aproveitamento das oportunidades de crescimento;


- Pela mudança de paradigma do “ter” e do ”fazer”, para o “Ser”;


- Pela criação de paz interior ;



Wednesday, 12 March 2014

O crescimento do ego humano

O crescimento do ego humano


O ego nasceu inicialmente com a finalidade de preservar, de forma mais eficaz, a nossa individualidade física. Contudo, este foi crescendo de tal forma, que, nos nossos dias, a sua principal tarefa, passou a ser garantir a nossa superioridade em relação a tudo e a todos. Para garantir a nossa superioridade, como já referimos, tem vindo a crescer desmesuradamente.


 Com este fim, o ego passou a integrar nele, as “nossas verdades”, mas também os bens materiais, os animais e plantas, os nossos amigos e até os nossos familiares. Tudo aquilo que pode “acariciar” a nossa individualidade material passou a fazer parte do nosso ego. O que é exterior ao próprio homem - os bens materiais e até outros seres - passaram a integrar cada homem e a fazer parte do seu ego. Para além de nós próprios, do nosso corpo mente e Alma, apegá-mo-nos ao que nos é exterior que passámos a considerar nosso e assim integrámos isso em nós. Consideramos que tudo isso faz parte da nossa identidade.

Passámos a considerar que, somos tanto “mais superiores” aos outros, quanto mais temos. Para garantir esta superioridade baseada no ter, criámos a sociedade de consumo, que alimenta a supremacia do material relativamente ao Ser.

Constatámos, também, que outra forma de implementar o nosso ego é obter poder, pois, considerámos que, com poder, podemos ter domínio sobre os outros, e não só incrementamos directamente a nossa superioridade em relação a eles, como podemos obter mais bens materiais, que na nossa perspectiva também aumentam o nosso ego.

Os nossos amigos e os nossos familiares, também passaram a integrar o nosso ego, pelo menos enquanto servirem para o alimentar. Por exemplo, se tivermos amigos importantes entendemos que a  nossa identidade também será mais importante. Também podem  cumprir a finalidade de alimentar o nosso Ego, enquanto apoiarem as “nossas verdades”, ou nos apoiarem do ponto de vista material. Sabemos que se as “nossas verdades” forem partilhadas por mais pessoas, nem que seja em parte, têm mais força. Contudo, quando “as verdades” deles deixarem de coincidir com as nossas, porque os interesses de uns e de outros mudaram, ou porque os seus interesses materiais chocam com os nossos, ou porque a luta pelo poder chega, podemos descartá-los, retirar os amigos da nossa lista, ou até desprezar ou renegar os membros da nossa família.

Criamos apego àquilo que satisfaz o nosso ego, à “nossa verdade”, que, do nosso ponto de vista, é a única certa, aos nossos bens, ou até às pessoas enquanto satisfazem e acariciam o nosso ego.


Criamos uma sociedade de competição – os nossos apegos contra os apegos dos outros - a nossa verdade contra a dos outros, o nosso estatuto, dado pelos bens ou pelo poder contra o estatuto dos outros, o qual pretendemos seja inferior ao nosso - o nosso grupo contra os outros. Este é o caminho do ego, o caminho da separação dos outros.

Wednesday, 26 February 2014

Consequências da Mente Egoica

Consequências da Mente Egoica


Nós evoluímos como animais e torná-mo-nos seres humanos, e, por força da nossa evolução neste domínio da materialidade, desenvolvemos instintos de defesa mais sofisticados, que, se por um lado nos dão mais possibilidade de sobrevivência, por outro, agravam os riscos, ao aumentar exageradamente o culto da individualidade e o medo, que daí resulta. Assim, por força desta natureza humana, criámos uma sociedade de competição permanente em que temos de provar que somos superiores, logo os outros são inferiores. Esta mentalidade que fomos criando, por vezes de forma inconsciente, fez com que incentivássemos também os nossos filhos a mostrarem-se superiores, pois entendemos que nesta sociedade de competição só os melhores podem triunfar.

Assim, a mente “racional”, com o intuito de proteger a individualidade física, seguiu o caminho da sobrevalorização do individuo, à custa da desvalorização dos outros. Quando nos valorizamos, até nas mais pequenas coisas, pretendemos geralmente mostrar a nossa superioridade em relação aos outros. Quando falamos dos outros para salientar os seus aspectos negativos, estamos, mesmo que de forma inconsciente, a tentarmos convencer-mo-nos e aos outros que somos superiores.

Para garantir a nossa superioridade recorremos às nossas memórias do passado, para encontrar argumentos a nosso favor e ou argumentos contra aqueles que põem em causa a nossa superioridade ou de alguma forma se impõem a nós. Este objectivo de garantir a nossa superioridade, faz com que a nossa mente não páre. Esta está constantemente a gerar pensamentos de forma obsessiva e não controlada. Estes pensamentos geram ideias, conceitos, que assumimos como a “verdade”, a “nossa verdade”. Criámos um ego exacerbado que é o repositório de tudo o que satisfaz a nossa individualidade, as “nossas verdades”, e, como veremos mais tarde, tudo o que assumimos como nosso, e que engrandece a nossa individualidade. A “verdade” criada pela nossa mente é, pois, aquela que garante a nossa satisfação pessoal e a nossa superioridade em relação aos outros, a que satisfaz e acaricia o nosso ego.

O impacto em nós, de tudo o que nos é exterior, é avaliado pela nossa mente racional, em função dos parâmetros do nosso ego, gerando uma relação afectiva em relação ao que nos é exterior. Esta manifesta-se no nosso corpo sob a forma de emoções. Se este impacto satisfaz ou acaricia o nosso ego, se vai de encontro à “nossa verdade”, gera-se uma relação afectiva amistosa com esse algo, que origina no nosso corpo emoções que chamaria de “positivas”, porque nos fazem sentir bem. Se este impacto é avaliado como impedindo a nossa satisfação pessoal ou a concretização da nossa superioridade, prejudicando o nosso ego, contrariando a “nossa verdade”, gera-se uma relação afectiva de rejeição, que origina no nosso corpo emoções “negativas”, habitualmente sob a forma de medo, em qualquer das suas variantes, revolta, raiva, ódio….

Assim, o nosso ego faz com que vivamos em permanente competição a fim de provarmos a nossa superioridade, mas, como tudo o que nos é exterior representa sempre um risco para este nosso ego exacerbado, vivemos alimentando constantemente o medo e tornando-nos infelizes.


Entendo que todos nós devemos crer evoluir, todos nós devemos crer crescer como seres humanos. Para tal, é normal que nos queiramos experienciar em todas os aspectos da materialidade, é normal que aceitemos novos desafios. Mas a nossa evolução não significa que não queiramos que os outros evoluam, aliás devemos alegra-mo-nos com a evolução dos outros, pois, como fazemos parte de uma raça e de um Todo, só podemos beneficiar com a sua evolução. Para alguém que entenda quem realmente É, para alguém que entenda que é parte de um Todo, e, por isso, ama e vive como o Todo que É, será incompreensível que queira competir para ser “melhor” do que o outro, pois o que faz sentido é que se alegre com o crescimento do outro.

Nós deveremos aceitar o desafio de crescer, logo de nos conhecermos melhor para aprendermos a ser mais conscientes e mais evoluídos do que éramos, pois é para isso que aceitámos o desafio de viver; mas não temos de ser “melhores” do que ninguém, simplesmente devemos ser “melhores” do que nós próprios éramos. A nossa evolução está muito dependente da evolução da sociedade em que nós nos inserimos, pois nós evoluímos condicionados pelo exterior, pela sociedade em que vivemos; logo, quanto mais consciente for a sociedade em que vivemos, quanto mais a sociedade evoluir, quanto mais os outros evoluírem mais nós evoluímos.
                                                                                 


Tuesday, 18 February 2014

A dicotomia o ego e o Todo

A dicotomia o ego e o Todo


Por estranho que pareça, nós não nos poderíamos conhecer como os Seres que realmente Somos, como a nossa Alma, se não tivéssemos desenvolvido um ego. Neste mundo da materialidade, nada existe sem o seu oposto. Na verdade, os opostos são complementares, pois não podem existir um sem o outro. Logo sem termos desenvolvido um ego, não poderíamos conhecer a sua ausência. Contudo, será na ausência de ego, o qual é suportado por uma mente que está constantemente a trabalhar para o alimentar, que nos podemos ligar ao Todo que somos, à nossa parte imaterial, à nossa Alma, e assim atingirmos o máximo da felicidade. Assim, tivemos de evoluir até nos tornarmos Auto Conscientes, até termos a capacidade de nos conhecermos como uma individualidade material, para criarmos um ego, que, como veremos, é ilusório, para podermos conhecer a sua ausência, e nos podermos realizar integralmente como Seres imateriais, no campo da materialidade, na união com o Todo. Então ao estarmos unidos com o Todo, poderemos dizer que estamos unidos como Deus, seremos Um com Deus.

                                                                                 
O nosso crescimento só pode ocorrer, nesta dimensão espaço/temporal, conhecendo as regras da dialética dos opostos. Temos de conhecer sempre o que não somos para podermos conhecer o que Somos, temos de conhecer o frio para sabermos o que é o calor. Assim, a nossa evolução vai-se construindo entre o Yin e o Yang. Na dialéctica entre o yin e o yang vamos conhecendo o Yin e o Yang e podemos balancear-mo-nos mais para um lado ou para o outro.

Neste caso, poderemos conhecer o ego, o caminho da individualização, e vir a entender que este nos afasta cada vez mais dos outros e do meio envolvente, de tal forma que poderemos acabar por criar um desequilíbrio tal com tudo o que nos rodeia, que venhamos a destruir a nossa individualidade física, a raça humana e o meio ambiente. Contudo, para ter esta compreensão, temos previamente de ser capazes de abandonar o ego, de perceber que é no Todo que nos podemos realizar integralmente. Assim, após conhecermos o caminho do ego e o abandonarmos, podemos decidir conhecer e seguir o caminho da sua ausência, da ligação ao Todo, da Unidade. O difícil é aprender a seguir este caminho. Tal deve-se a que a nossa materialidade, o nosso instinto de preservação como seres materiais foi ajudando a que criássemos uma mente egoica e a que extremássemos a individualização. Daqui resultou, à semelhança do que acontece com as doenças auto-imunes, que começássemos a destruir-mo-nos a nós próprios. A mente egoica que foi criada para nos ajudar a crescer como entidades materiais, passou a dominar-nos, e, ao extremar a necessidade de auto preservação, torná-mo-nos “irracionais”, incapazes de compreender o caminho que estamos a seguir.

Mas, é assim que funcionamos neste mundo da materialidade, neste mundo da dialéctica de opostos - nele, só depois de nos conhecermos como individualidade material e de gerarmos um ego, teremos capacidade para o abandonar e poderemos entender os problemas que o ego gerou ao crescer. Portanto entendamos esta forma de funcionarmos, aceitemo-la e apreciemo-la, pois é para nos experienciarmos neste domínio que decidimos encarnar.


Friday, 14 February 2014

A mente Humana e a Alma

A mente Humana e a Alma



Cada ser humano quando nasce transporta em si determinadas potencialidades herdadas dos seus pais, que lhe poderão permitir determinadas possibilidades de desenvolvimento, quer físico, quer mental. Estas potencialidades, resultantes da evolução da raça humana, foram sendo transmitidas geneticamente de pais para filhos à medida que a evolução foi ocorrendo. 

A Alma quando reencarna, entra num corpo que transporta em si essas potencialidades, mas a respectiva mente encontra-se vazia, como se fosse um disco rígido que acabou de ser formatado, e irá começar a ser preenchido e a desenvolver-se a partir do momento em que tenha algum contacto com o meio exterior. Assim, a mente nasce em cada reencarnação com o nascimento do corpo físico, e dá por finda a sua aprendizagem quando o corpo físico morre.

Contudo esta aprendizagem não desaparece, irá servir para que o que nós Somos verdadeiramente, O que habita o nosso corpo, a nossa Alma, vá aumentando o seu conhecimento no domínio da materialidade até que se conheça integralmente neste domínio, como o Todo de que tudo faz parte.

Mas, o conhecimento no domínio da materialidade, nesta dimensão espaço/temporal, é extremamente complexo para os actuais seres humanos; por um lado porque estes se encontram limitados em cada reencarnação pelo escasso período temporal de cada vida humana e pela sua limitada capacidade física e mental; e, por outro, pelo nível de conhecimento da sociedade na época em que a encarnação tem lugar, o qual tem uma intervenção primordial na formação do respectivo ego e na criação dos seus processos mentais. Assim, em face destes condicionantes nós precisamos de muitas reencarnações para nos conhecermos integralmente em todos os aspectos deste domínio material, até aprendermos a ser plenamente felizes.



Nós, como organismos animais que somos temos tendência a ser regidos pelo impulso animal que pugna para que a nossa individualidade material sobreviva. Assim, temos tendência a reagir por impulso a tudo o que ponha em causa a nossa individualidade. O incremento do nosso ego, suportado por uma mente cada vez mais sofisticada, só fez com que tivéssemos mais eficácia nas nossas reacções. Mesmo as acções pensadas, não deixam geralmente de ser reacções de defesa motivadas pelo nosso instinto animal, agora planeadas e talvez mais agressivas ou mais constantes, porque têm um ego a suportá-las. Como sabemos, no mundo animal cada reacção provoca sempre, uma outra reacção do mesmo tipo, por parte do oponente.

Assim, à medida que nos fomos desenvolvendo como entidades físicas em cada vida material, fomos criando mecanismos de protecção, que ao provocar reacções da nossa parte, isolam-nos cada vez mais dos outros seres que nos rodeiam. Vamos desenvolvendo uma mente que analisa tudo em função da individualidade material de cada um, descontextualizada do meio em que vivemos. Assim, criamos vícios de análise e de raciocínio, aos quais nos apegamos de tal forma que a nossa evolução como seres vivos, logo, integrados num Todo, se torna tremendamente condicionada. Este é o caminho da individualização que nos impede de nos conhecermos como seres integrados num Todo. 


Esta forma de desenvolvimento dos seres humanos tem vindo a perpetuar-se ao longo das gerações e perpetua-se em cada uma das nossas vidas, enquanto não acordarmos. Enquanto não tomarmos consciência de quem Somos. Enquanto não percebermos que somos a nossa essência, a nossa Alma. Enquanto não percebermos que o apego à materialidade, e ao passado que suporta este apego e o respectivo ego, só geram reacções que nos afastam dos outros e nos tornam infelizes.

Contudo, por vivermos no domínio da materialidade, torna-se difícil, como referimos, acordarmos e percebermos quem Somos e passarmos a agir como o que Somos. 

Desta forma, para que nos possamos conhecer em todos os aspectos da materialidade, libertos dos condicionamentos que vamos adquirindo ao longo de cada vida terrena, quando nascemos trazemos a mente vazia, o que nos propicia novas oportunidades para que no decurso de uma vida terrena possamos acordar.

No decurso de uma vida terrena poderemos enveredar pelo auto-conhecimento, pode-mo-nos libertar dos condicionantes que a sociedade e o nosso impulso animal nos impõem, e, perceberemos então, que o caminho que temos seguido até ao momento só nos torna infelizes, pelo que temos de encontrar outro caminho.  Perceberemos que a mente dominada pelo ego gera um raciocínio obsessivo e viciado que nos impede de nos conhecermos verdadeiramente e de sermos felizes. Talvez esta situação possa ocorrer devida à Alma estar em condições de ser mais interventiva no domínio da materialidade, em face do seu maior desenvolvimento neste domínio.

Poderemos então entender que esse outro caminho não pode ser trilhado pela nossa actual mente dominada pelo Ego. A mente dominada pelo ego é incapaz de entender que cada um de nós só conseguirá ser feliz quando viver completamente integrado no Todo de que todos fazemos parte. Só quando vivermos em equilíbrio, em harmonia, em perfeita ligação entre todos, conseguiremos ser felizes e a humanidade pode passar para um nível de consciência mais elevado. Quando a humanidade elevar o seu nível de consciência, tornar-se-á mais fácil cada ser humano crescer como ser feliz, pelas razões que atrás expressei.

Mas para isso temos de parar o ritmo incessante da mente, de forma a que ela não nos domine. Só então, estaremos aptos a descobrir outras vias que nos permitam conhecer-mo-nos como a totalidade do que Somos. A nossa Alma terá então condições de aflorar e intervir mais na nossa vida.

A nossa Alma é parte do Todo, e sabe que o é, sabe que só no Todo se pode realizar. Então poderemos conhecer-mo-nos no campo da materialidade como o Todo que Somos, como o Absoluto, que é composto pelo Yin e pelo Yang, pelo mais e pelo menos…, porque eles são partes opostas e complementares, e sem ambos a materialidade não existe, logo sem eles nós não poderíamos existir como seres materiais. Só então ao viver e sentir a perfeição da materialidade nos podemos tornar Seres iluminados e viver felizes, quaisquer que sejas as circunstâncias exteriores a nós.  


Contudo, se o apego ao ego for muito grande, a transformação pode tornar-se quase impossível, e só com novos renascimentos, com novas reencarnações em que consigamos recomeçar, libertando-nos dos apegos, podemos vir a conseguir transformar-mo-nos em seres que se conhecem integralmente como o Todo que Somos e assim, uni-mo-nos a Ele e sermos Felizes.